[Crítica] Doctor Who: The Day of the Doctor


O Dia do Doutor finalmente chegou, caros leitores.

No último dia 23 de Novembro de 2013 (sábado passado), a série de ficção científica britânica Doctor Who comemorou meio século de existência. E como parte das comemorações - que contou até com alguns dos atores que deram vida ao Doutor tomando um chazinho com a Rainha Elizabeth II - a BBC exibiu simultaneamente em todo mundo, tanto em seu canal como nos cinemas espalhados, o episódio especial de 50 anos, The Day of the Doctor.

E antes de vocês conferirem a minha opinião de bosta sobre o especial, já deixo avisado que o meu texto é totalmente livre de spoilers...ao menos se você já acompanhou até a sétima temporada do seriado. ;)

Além de comemorar os cinquenta anos com um especial totalmente dedicado aos fãs, os 77 minutos de The Day of the Doctor dão continuidade a trama do seriado a partir do gancho deixado pelo último episódio da 7º temporada, The Name of the Doctor. Finalmente conheceríamos o Doutor interpretado por John Hurt, renegado pelo 11º Doutor (Matt Smith) nos momentos finais do season finale.

Se a presença de uma nova encarnação do personagem já era um grande atrativo, a confirmação de David Tennant (10º Doutor, o mais popular da série atual) e Billie Piper (Rose Tyler) no elenco elevou o status da produção para imperdível. O nível de expectativa só não foi maior graças a recusa de Christopher Eccleston (9º Doutor) em participar do especial. Para quem não sabe, Eccleston participou de uma única temporada devido a divergências entre ele e a equipe de produção. E tudo leva a crer que a sua saída não foi nada amigável.

Contudo, a ausência de Eccleston foi o ÚNICO grande revés deste Especial.

"Não olhe para trás Clara, mas acabei de descobrir quem pegou o meu cachecol."
Roterizado pelo showrunner trollador Steven Moffat, o enredo inicialmente apresenta os três linhas temporais distintas onde cada uma está presente uma das encarnações do Doutor. Nos tempos atuais, o 11º Doutor e Clara (Jenna Coleman) são "gentilmente" sequestrados convocados pela UNIT, comandada por Kate Stewart (Jemma Redgrave) para investigar um mistério envolvendo quadros gallifreyanos presentes em uma área secreta da galeria de artes de Londres.

Na Inglaterra Elizabetana, o 10º Doutor investiga um mistério envolvedo a presença de Zygons, criaturas capazes de assumir a forma de qualquer ser vivo, dentro da coroa britânica. Desconfiado de que a própria Rainha Elizabeth I (Joanna Page) é um Zygon disfarçado, o Doutor resolve se aproximar da monarca usando seus dotes de galanteador a fim de confirmar suas suspeitas. Se algum de vocês se lembra de The End of Time - Part I, vocês já devem imaginar como é que ele fez para descobrir. :D

Por fim, durante o período final da Guerra do Tempo, o grande conflito entre Daleks e os Time Lords, o Doutor interpretado por John Hurt - apresentado em The Name of the Doctor e introduzido oficialmente no mini-episódio The Night of the Doctor - está de posse do Momento, a arma mais poderosa do Universo. Ao manusear o artefato, a interface visual da arma é ativada, assumindo então a forma de um ente muito querido para o Time Lord. Ao explicar sobre as consequências que o uso da Momento trará a vida do viajante do tempo, a Interface oferece a ele a oportunidade de conhecer como esse ato irá afeta-lo.

Após a oferta, um portal é aberto em sua frente, bem como outros dois são abertos na Inglaterra Elizabetana e na Londres contemporânea. Atiçados pela curiosidade, o 11º Doutor e Doutor da Guerra do Tempo decidem entrar no portal onde acabam sendo mandados para o período onde se encontra o 10º Doutor. E como essa sinopse está longa demais, vou parando por aqui. ;)

"OBJECTION!!!!"
Os roteiros escritos por Steven Moffat sempre rendem grandes histórias, e aqui não é diferente. Por ser tratar de um episódio comemorativo, o enredo criado pelo showrunner acaba sendo muito mais emocional do que complexo, até porque o principal mote da trama é o dia que mudou drasticamente a vida do Doutor. É claro que ainda temos aqueles twists que Moffat tanto gosta de fazer, mas a opção em ser mais dois coração do que razão deu o tom certo para a história.

Embora seja centrado em três encarnações do personagem título, a intenção de Moffat ao escrever o enredo nunca foi criar apenas MAIS UM crossover entre Doutores, mas sim celebrar toda a mitologia apresentada por Doctor Who ao longo dos anos. E como se trata de uma celebração, o que não falta em tela são referências a elementos da série. A abertura original de 1963 no inicio do especial e presença de um Fez (Fezzes are cool!) são algumas das referências presentes.

A condução da história conta com a presença de vários momentos não lineares, ocasionados pelas viagens temporais da TARDIS pelas linhas temporais. Mesmo sendo um conceito que facilmente pode complicar o entendimento de uma narrativa, a forma como essas viagens criam a não linearidade dos acontecimentos é muito bem pontuda, uma vez que parte do inicio de uma cena fora de sequência é justamente o fim de outra. E como a intenção não é confundir os espectadores, esses pontos de intersecção ajudam no entendimento da trama.

Alias, é preciso elogiar a BBC pela maneira como divulgou as novidades. Em tempos onde as super produções liberam imagens dos sets de filmagem quase que diariamente e os trailers revelam praticamente as melhores cenas, a emissora britânica segurou quase que a sete chaves a maior parte das informações. Tanto que até um mês atrás, o especial não tinha nem trailer e, quando recebeu o primeiro, mesmo sendo sensacional, ele não mostrava uma única imagem do episódio. E mesmo quando finalmente saiu o trailer com imagens do episódio, o vídeo vendia uma ideia bem diferente daquela que foi mostrada no corte final.

Regeneração, o que não mata te rejuvenesce!
Quem esperava ansiosamente o crossover entre o 10º Doutor e o 11º Doutor com toda certeza não se decepcionou. David Tennant e Matt Smith mostraram um excelente timming em todos os momentos que dividiram os holofotes, resultando em cenas totalmente espontâneas. Enquanto Tennant demonstrava que o período afastado do papel não o fez perder a forma, o competente Smith já prepara o terreno para a sua despedida no especial de natal. Definitivamente, o seu 11º Doutor vai deixar saudades.

E se esperada reunião entre os personagens Tennant e Smith já estava fazendo muito fã explodir a cabeça, quando o Doutor de John Hurt se une a dupla, o que já era excelente se torna sensacional. Hurt não tem a menor dificuldade em interagir com ambos, conseguindo melhorar ainda mais a dinâmica entre os personagens. Inclusive, as cicatrizes deixadas pela guerra nas encarnações do Time Lord ficam ainda mais evidentes quando o veterano de guerra se junta a dupla. Experiente e com duas indicações ao Oscar, Hurt foi sem sombra de dúvidas uma escolha muito feliz para o papel.

Com relação as companions de Jenna Coleman e Billie Piper, ambas possuem papel fundamental no especial, agindo como a consciência do viajante do tempo. Como já foi dito certa vez, o Doutor é um indivíduo com um grande poder nas mãos, mas ele necessita de alguém ao seu lado para ajuda-lo a tomar a melhor decisão. E o melhor de tudo é que nenhuma delas acaba desempenhado o papel da mocinha que precisa ser salva. Alias, Clara é a única que realmente ameaçada pelos vilões, entretanto, mas uma vez a impossible girl demonstra ser esperta o suficiente para resolver o problema. Antes que me perguntem, a nossa querida Rose está divertidíssima em sua participação...e ao contrário do que muita gente reclamou, eu achei que ela ficou gatinha em seu visual riponga e eu vou apanhar da minha namorada por esse comentário.

Os personagens de apoio como a Rainha Elizabeth I, Kate Stewart e Osgood cumprem bem o papel na trama, apesar da importância na trama ser limitada. Até mesmo os Zygons, os vilões do especial, servem apenas como um pretexto para algo muito maior. E falando em personagens com pouco tempo em tela, o especial conta com duas rápidas participações especiais que vai fazer muito fã pular da cadeira e até mesmo se emocionar. :D

Clara mostrando que é MOTOQUEIRA, PORRA!!!
Os efeitos especiais nunca foram o foco principal do seriado. É óbvio que eles melhoraram MUITO desde a retomada da série em 2005, mas a preocupação principal da série sempre foi a qualidade dos roteiros e o próprio personagem. Mas para este episódio festivo, a BBC resolveu abrir o cofre com relação aos aspectos técnicos. Tanto que o resultado em termos visuais é o melhor já feito. É claro que ainda assim não é nada perto de um Transformers ou um As Aventuras de Pi, mas com toda certeza aquele seu amigo chato que vive reclamando dos efeitos visuais e que não entende os roteiros não vai chiar com isso.

Mas com toda a certeza, uma das coisas que mais me agradou foi a trilha sonora composta por Murray Gold. Responsável pela trilha de DW desde o seu retorno, assim como os efeitos visuais, o compositor evoluiu o seu trabalho com o passar das temporadas. Tanto que na quinta temporada, quando houve a mudança de equipe e principalmente a do Doutor, Murray compôs novas composições para marcar essa transição e, caros leitores, foi ai que o cara começou a se superar. Neste especial em questão, estão presentes trilhas fodaças como "Clara", "The Majestic Tale (Of A Madman In A Box)" e claro, "I am the Doctor".

Se já não bastasse todo o cuidado que teve com o seu produto, a BBC ainda realizou a jogada de mestre ao autorizar a transmissão simultânea do especial em todo mundo através de seus canais e através do cinema. Segundo o  Jovem Nerd, The Day of the Doctor obteve 10.61 milhões de espectadores apenas no canal BBC One, a maior audiência desde A Christmas Carol, o episódio especial de natal de 2010. Foram mais de 90 países que puderam assistir ao Especial de 50 Anos, como Austrália, Botswana, Hong Kong, Myanmar, Nigéria e México, ainda contando com cerca de mais de 1.500 salas de cinema pelos EUA, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Cazaquistão, Rússia, Uruguai, Peru, Equador, Argentina e no Brasil.

Inclusive, como descrito pela própria matéria do JN, inicialmente haveria apenas três cidades onde o Cinemark - a rede de cinema responsável pela distribuição - iria exibir o especial. O clamor dos fãs pela internet foi tanto que muitas cidades não só receberam sessões como também conseguiram mais salas para exibição. Como morador de Campo Grande/MS, eu mesmo acreditava que iria ver o especial pela BBC HD, mas para a minha surpresa, o especial ganhou uma sessão por aqui. E se isso já na bastasse, a sala LOTOU...algo que eu jamais acreditava que fosse acontecer.

"Hello Sweetie!"
E para quem teve o privilégio de assistir nos cinemas, além de conferir duas cenas iniciais divertidíssimas: a primeira protagonizada por Strax mostrando do "seu jeitinho" como as normas em uma sessão de cinema devem ser seguidas; e a segunda com 11º Doutor e o 10º Doutor fazendo uma introdução para a grande atração. Outra boa surpresa para quem assistiu no cinema foi o excelente uso do 3D, que ao contrário de alguns Blockbusters que usaram o efeito apenas para jogar firulas no espectador ou apenas embutiram o efeito nas legendas (como aquela merda chamada Fúria de Titãs), garantiu para a película a sensação de profundidade na imagem, causando um efeito imersivo muito maior.

Um canal de televisão conseguiu fazer melhor uso do 3D do que muito estúdio de cinema, a que ponto nós chegamos, ein Hollywood?

Enfim, The Day of The Doctor não foi apenas um evento de comemoração como Moffat planejava. Com a transmissão simultânea em várias partes do mundo tanto pela BBC quanto pelo cinema, o dia do Doutor ficou marcado como o dia em que os fãs de Doctor Who descobriram que não são poucos como imaginavam. E com os números cada vez comprovando esse fato, quem sabe o canal britânico não faça uma nova transmissão como essa? Afinal de contas, os 10 anos do retorno da série estão chegando. ;)

Nota: 10


Ficha Técnica

Doctor Who: The Day of Doctor (2013)
Aventura | Ficção Científica | Drama

Diretor: Nick Hurran.

Roterista: Steven Moffat.

Elenco: Matt Smith, David Tennant, John Hurt, Jenna Coleman, Billie Piper, Jemma Redgrave, Ingrid Oliver, Joanna Page.




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