[Penso, Logo Digito] Skypiea: O Pior Arco de One Piece?

[Vitrine: Divulgação/Toei]

Com a estreia de One Piece no Netflix em outubro de 2020 (também conhecido como ano passado), o hype gerado pela novidade me motivou a voltar a acompanhar a obra após ficar afastado por quase dez anos. Como não tinha pressa em alcançar o ponto atual da história, optei por continuar pelo anime. E sim, o ritmo enrolado da animação em certos momentos – cof cof, Dressrosa, cof cof – fez com que eu me questionasse se havia sido uma boa ideia...

Recomeçando a partir da passagem de tempo (timeskip) de dois anos pós-Guerra de Marineford (trecho onde havia parado anos atrás), iniciei a minha jornada assistindo entre dois e três episódios por dia. Durante os primeiros três meses, mantive esta rotina sozinho, passando pelos arcos da Ilha dos Homens Peixes e de Punk chata demais Hazard. Em Dressrosa, porém, a minha patroa – que tentou assistir os episódios iniciais da série no Netflix, mas não se animou – começou a me acompanhar ao ver todo o conjunto de bizarrices que aquele ponto da história podia oferecer. E assim fomos juntos até chegar aos episódios atuais em Wano.

Agora, motivada após assistir os arcos mais recentes dos Chapéus de Palha e de criar um crush pelo Zoro, a minha digníssima decidiu recomeçar a animação pelo seu início e eu prontamente me prontifiquei a acompanhá-la nesta nova jornada. Mais do que assistir a mais episódios ao lado da pessoa que amo – sou um romântico, eu sei –, esta experiência seria uma oportunidade de assistir o início do anime, uma vez que comecei a acompanhar a obra através do mangá licenciado pela Conrad, lá no início da década de 2000.

Sendo bem justo, esta não seria a primeira vez que tentaria ver os episódios iniciais. Na realidade, era a minha 3ª tentativa. A 1ª aconteceu quando o Cartoon Network exibiu a animação em sua grade de programação, mas meu interesse foi logo sepultado graças às censuras presentes na versão (muito obrigado por nada 4Kids! vá a merda!) e ao horroroso Rap de Abertura. A 2ª aconteceu na mesma época, quando “importei alguns episódios do Japão” para assistir no computador, mas acabei não animando em seguir adiante, até porque a trama inicial estava bem fresca na memória graças ao mangá.

Mas dessa vez, meus caros leitores, era uma situação completamente diferente. Além de contar com a minha parceira ao meu lado, os momentos iniciais da história já não estavam tão frescos na mente. Logo, finalmente consegui assistir os episódios iniciais da série animada. E apesar da qualidade da animação não ser das melhores (acho que a Toei não botava muita fé no negócio...), a experiência foi muito bacana. Rever grandes momentos como o pedido de ajuda da Nami ao Luffy, a batalha no Arlong Park, o passado e a entrada do guaxinim mais querido de todos Tony Tony Chopper no bando, o conflito em Alubarna e a despedida de Vivi valeram a pena demais.

Eles continuavam tão incríveis e emocionantes quanto eu me recordava.

"Ei Usopp, será que os Ursinhos Carinhosos moram aqui?"
[Imagem 1: Reprodução/Crunchyroll/Toei]

Quando finalizamos Alabasta – que na minha opinião é uma das melhores sagas do anime/mangá – comentei com a minha esposa que Water 7/Enies Lobby seria algo tão incrível quanto o que tínhamos acabado de presenciar.

Só que antes, era preciso passar por Skypiea.

Como devem ter notado, este enredo está longe de ser algo benquisto entre os fãs do trabalho de Eiichiro Oda. Inclusive, quando o assunto envolve os piores arcos da obra, ele normalmente figura entre os citados pelo fandom. Pessoalmente, não tinha boas lembranças dele quando o acompanhei pelo mangá. Porém, a minha cabeça de hoje é muito diferente de anos atrás – era apenas um adolescente na época em que comprava os quadrinhos - e talvez hoje o revendo, minha opinião mudasse de forma positiva.

....

Ééééé... mais ou menos.

Rever a aventura de Luffy & Cia pelo mar branco-branco com a bagagem que tenho hoje me fez enxergar muitos pontos positivos que estão ali presentes. Por outro lado, revisitá-la ressaltou ainda mais alguns aspectos que não me agradaram desde a primeira vez. Mas vamos por partes, pois este artigo está apenas no começo ainda nem digitei 10 páginas de texto e tenho muito o que comentar sobre tudo isso.

Inicialmente, é preciso ressaltar que o enredo é mais uma demonstração da inventividade do Oda no quesito construção de cenários. Nas tramas anteriores, o mangaká já havia mostrado o quão bom era nesta questão, mas aqui ele certamente não poupou despesas criatividade na sua versão flutuante de El Dourado. Não satisfeito em elaborar uma aventura que se passa em uma Ilha no Céu, ele fez questão de enriquecer o “universo” que cerca este lugar. Partindo do princípio de uma lenda de uma cidade cheia de ouro que desapareceu sem deixar vestígios, somos apresentados posteriormente a um fenômeno marítimo que permite embarcações alcançarem os céus; os tipos de nuvens que permitem a existência daquela localidade; a forma como a navegação nelas funciona; as civilizações que habitam ali (os Skypieanos e os Shandianos) e a forma como vivem; os gadgets (na forma das Dials, conchas especiais com múltiplas funcionalidades) que oferecem comodidade aos habitantes; as estruturas de governo vigentes e o conflito entre os dois povos que dura mais de 400 anos.

Aliás, duas civilizações distintas brigando pelo controle de uma região que ambos consideram como solo sagrado, hum... acho que já vimos isso em algum lugar!

Um pégaso rosa com pintinhas roxas, o tipo de bizarrice que espero ver em One Piece.
[Imagem 2: Reprodução/Crunchyroll/Toei]

Na humilde opinião deste que vos escreve, a melhor contribuição de Skypiea é a história do explorador Mont Blanc Noland, figura que desempenha um papel fundamental no passado e no presente desta aventura. De início, o personagem é apresentado através de um livro infantil chamado “Noland, o Mentiroso”, onde ele é caracterizado como um mentiroso com aspecto bufão que acaba sentenciado à morte após enganar um rei sobre a existência de uma cidade repleta de ouro. Mas quando somos apresentados ao seu flashback, o verdadeiro Mont Blanc é mais um daqueles coadjuvantes que poderia tranquilamente render uma série spin-off.

E digo mais, a amizade de Noland e o guerreiro Calgara – que na versão original do anime é dublado por Hidekatsu Shibata, o mesmo dublador (seiyuu) do Monkey D. Dragon –, retratada no passado, é uma história muito mais interessante que a aventura que se desenrola com os Chapéus de Palha no presente (um abraço, Horizon Zero Dawn!). Sei que ainda não era o momento para apontar os defeitos, mas isto precisava ser dito.

A introdução do arco é um momento em que o Eiichiro Oda aproveita para apresentar várias caras novas que serão recorrentes em todo o anime/mangá. Durante a conferência em Marineford para a escolha de um novo Shichibukai (lembrando que Crocodile foi destituído após as suas tramoias em Alabasta virem a público), temos o primeiro contato com Bartholomew Kuma, o grandíssimo filho da puta mor Donquixote Doflamingo e o chefão da Marinha, o Almirante Sengoku. Em Jaya somos apresentados ao pirata Bellamy (personagem que o autor adora provocar um traumatismo craniano básico) e ao grande vilão da obra e o seu bando, Marshall D. Teach, também conhecido como Barba Negra.

Vale destacar que é aqui que temos a primeira aparição de um dos personagens mais badass da bagaça, Edward Newgate, aka Barba Branca. E na mesma sequência, temos também o primeiro vislumbre de Marco,“A Ikki de Fênix” que, assim como como Silvers Rayleigh no flashback do Buggy, ainda não contava com um character design beeem definido pelo autor. :P

Falando em estreias, esta é a primeira aventura de Nico Robin Robin-chan S2 S2 como membra do bando (sim a primeira, fillers não contam na minha cronologia pessoal :P). E meus caros leitores, não me recordava o quão distante ela era dos demais nos primeiros momentos a bordo do Going Merry. Além de ficar na dela durante quase todo o primeiro ato da aventura, em nenhum momento ela se refere aos companheiros pelo nome, mas sim por suas funções (navegadora, espadachim, cozinheiro, doutor, capitão) ou por apelidos (narigudo).

Considerando o background da arqueóloga (algo brevemente mencionado durante a sua “entrevista de emprego” para Usopp), esse comportamento faz todo sentido. Por conta das várias traições que sofreu por carregar o peso de Ohara, a ex-Miss All Sunday teve que aprender a não se apegar às pessoas. Ao ingressar no grupo (mais por não ter para onde ir do que por escolha), Robin mantém uma grande distância dos demais. Só que aos poucos, veremos que ela não conseguirá não se importar com seus novos companheiros, não hesitando em se sacrificar em prol deles.

Ok, mas aqui o assunto não é Water 7/Enies Lobby. Se um dia tiver oportunidade de escrever sobre esta saga, comentarei sobre uma certa sequência em uma torre que sempre me deixa emocionado.

A melhor personagem feminina de One Piece. Sim ou com certeza?
[Imagem 3: Reprodução/Crunchyroll/Toei]

Skypiea foi o berço para vários conceitos do anime/mangá. E olha, não foi pouca coisa não: o Mantra, técnica dominada pelos antagonistas da saga, nada mais é do que o Haki da Observação (Kenbunshoku Haki); o ataque a distância do Zoro, o Canhão da Fênix de 108 Libras (Hyakuhachi Pound Ho), é criado durante o jogo de sobrevivência do vilão principal; o Klabautermann, um espírito da água que acaba habitando os navios, faz a primeira aparição enquanto conserta o mastro principal do Going Merry (em Enies Lobby, ele será decisivo para a fuga dos Chapéus de Palha da instalação da Marinha); no começo da saga é revelado que Sanji nasceu no North Blue (esta questão será mais detalhada durante o arco Whole Cake); em Dressrosa, descobriremos que Noland foi um grande herói para a tribo Tontatta, com direito até a uma estátua no povoado.

Até mesmo em Wano, o ponto atual da obra no momento deste artigo, temos conceitos apresentados neste arco. - ATENÇÃO!!! Como o trecho a seguir é um spoiler de algo muito recente, coloquei a fonte em branco. Selecione e leia por sua conta e risco.No flashback de Kozuki Oden, descobrimos como Rogério Dourado Gol D. Roger deixou aquela mensagem encontrada pela Robin ao lado do poneglifo (foi o próprio Oden que a escreveu a pedido do Pirata). E durante a luta entre Jinbe e Who’s Who’s em Onigashima, o Tobiroppo a serviço de Kaido faz uma citação a Nika, Deus do Sol que era cultuado pelo povo de Shandora.

Por fim, não podemos nos esquecer que é na Ilha do Céu que Monkey D. Luffy demonstra pela primeira vez os seus “dotes” musicais. Inclusive, estou muito curioso para ver como será a interpretação da Carol Valença na versão dublada. :D

Como podem observar, a aventura tem muitos pontos interessantes em sua estrutura. De fato, é inegável o grande potencial que ela possui. Só que infelizmente, a partir do momento que os protagonistas adentram o mar branco-branco, todo este potencial vai se esvaindo episódio após episódio, tornando-se algo bem NHÉ. Sim meus caros leitores, reassistir esta trama foi uma experiência tão chata e cansativa quanto foi no mangá. Inclusive, o ritmo de episódios que eu e a minha digníssima assistíamos por dia diminuiu consideravelmente uma vez que ela normalmente dormia durante o segundo episódio, para vocês verem o QUÃO empolgante foi este segmento do anime.

A raiz dos meus problemas com a saga está atrelada a seus personagens. Com exceção de Gan Fall, Pierre e da Aisa a proto Otama, os demais simplesmente não funcionam, variando entre sem-sal a insuportáveis. Por mais que a trama tente desenvolver conceitos interessantes (conflito pela posse de território e o uso da crença de um povo como forma de manipulação), tudo vai por água abaixo quando a qualidade dos personagens não faz jus ao que o enredo pede. Bons personagens potencializam a mensagem de suas histórias enquanto os fracos diluem o seu impacto.

A questão do conflito entre os povos, por exemplo, funciona quando é protagonizada por Gan Fall. Além de demonstrar uma grande frustração por não conseguir resolver a rusga entre as duas civilizações, o Dom Quixote Wannabe realmente sente o pesar pela forma horrível que seus ancestrais agiram contra os Shandianos. O problema acontece quando a questão é apresentada pela ótica do Wyper. Como principal referência do outro lado do conflito, era através dele que deveríamos criar empatia pela situação de seus semelhantes, só que o sujeito é simplesmente insuportável e acabamos criando antipatia por ele.

Sério, ele é cuzão babaca com os aliados, com os inimigos, com os estranhos e se pudesse quebrar a quarta parede, seria um cuzão babaca conosco. Por mais que a trama enfatize o drama vivido pelos habitantes de Shandora, ele sempre rouba a atenção da situação por conta da sua forma escrota babaca de agir. E para piorar, isso acaba contaminando todos os seus companheiros, tornando-os tão antipáticos quanto ele. Se não fosse pela pequena Aisa, não teríamos um único representante deste lado da moeda pela qual pudéssemos nos simpatizar..

Aliás, gostaria de mencionar que criei um ranking dos personagens que mais me irritaram durante Skypiea. Apesar dos seus esforços, o desgraçado do Wyper ficou apenas com a medalha de prata.

Os Incríveis Guerreiros Surfistas de Shandora
[Imagem 4: Reprodução/Crunchyroll/Toei]

Sendo justo, com exceção da Laki, o enredo não oferece muito espaço para o desenvolvimento dos outros guerreiros, cuja única utilidade é ser sparring para os protagonistas e os antagonistas. Por ser uma das únicas personagens a se portar como oposição com a forma suicida de pensar chata para cacete de Wyper, a guerreira acaba se salvando do vírus da antipatia de seu líder. Por outro lado, ela é uma das principais representantes dos “personagens sem-sal” uma vez que a sua importância na história é quase que inexpressiva. É o tipo de personagem que você esquece da existência facilmente (admita, você acabou de jogar o nome dela em um buscador).

Quem também ocupa o posto de coadjuvantes “sem graça” são Connie e Pagaya, dois dos principais aliados do Bando do "Piratinha que Estica". Por serem os principais representantes do subplot do “domínio pelo credo e medo”, pai e filha estão longe de serem esquecíveis como a Laki, mas também não chegam a ser memoráveis. Connie até demonstra uma boa evolução frente aos acontecimentos e, pensando bem, ela é talvez a mais notável entre os “sem sal” do elenco. Mas a falta de um “algo a mais” impede que a jovem seja uma figura ainda maior.

Quanto ao seu pai (Pagaya), ele se tornou uma vítima da falta de culhões do nosso querido mangaká em matar personagens. Se o seu sacrifício tivesse sido para valer, certamente seria um personagem que ninguém esqueceria (até porque dá para contar nas mãos os que morreram fora das histórias do passado).

Se os Skypieanos e os Shandianos sofrem com a falta de bons representantes, eles ao menos estão em um patamar de qualidade acima dos vilões, núcleo que considero o mais crônico de todos. Após acompanharmos a Baroque Works do Sir Crocodile, ter Enel e seus seguidores como os principais inimigos representa um grande retrocesso para a obra. Enquanto a organização criminosa do ex-Shishibukai transborda carisma e charme vilanesco, o déspota de Ilha do Céu e seus comandados são um “grande deserto” nestes quesitos. Entre os antagonistas canônicos da obra, eles só não ocupam o último lugar em minha preferência por conta dos Piratas de Foxy (que em ruindade são imbatíveis).

Mas vamos por partes.

Os quatro sacerdotes (Satori, Shura de Capricórnio, Gedatsu e Ohm) até contam com designs bacanas. Porém, não se pode dizer o mesmo das demais características do quarteto. Embora todos possuam o Mantra como habilidade padrão, com exceção de Ohm que conta com Holy – um cachorro gigante pugilista (não chega ao nível do Lassoo, mas ainda é algo bizarramente divertido) –, as técnicas de combate dos demais não me fisgaram. Admito que algumas são até criativas, mas nenhuma fez com que meus olhos brilhassem como os do Chopper... com exceção do cão que luta boxe, claro!

Com relação a personalidade, apenas Gedatsu e Satori possuem algo digno de nota. Sendo o mais estranho da turma, Gedatsu poderia muito bem ser aquele o camarada bizarro que conquista o fandom por conta de seu potencial cômico. Contudo, além de ter pouquíssimo tempo de exposição, as suas habilidades de batalha não possuem nada de especial (ele usa as dials para atacar, mas sinceramente, o Usopp fará um uso mais impressionante destas conchas no futuro).

Quanto a Satori, os seus Kinder Ovos DO MAL as suas “Bolas Surpresas” são armas até bem criativas em combate (não consegui pensar em algo sem que ficasse com duplo sentido), mas sua personalidade debiloide infantiloide é simplesmente IRRITANTE. Como o Sanji e o Luffy não demoraram muito para causar um belo traumatismo craniano no infeliz, ele ficou com a medalha de bronze do meu ranking de personagens xaropes.

E não bastando termos um exemplar deste sujeito, o Oda fez questão de incluir seus irmãos gêmeos mais novos, Hotori e Kotori, como adversários para Nami e Gan Fall. Embora apresentem um potencial de irritabilidade beeeem grande, felizmente a trama dedica pouquíssimo tempo a eles (UFA!!!).

Connie, muito mais badass com uma bazuca do que um certo personagem.
[Imagem 5: Reprodução/Crunchyroll/Toei]

Acredito que a esta altura do artigo, não deve ser nenhuma surpresa que o dono da medalha de ouro da modalidade “personagem mais pé-no-saco de Skypiea” vai, de forma merecida, para o grande antagonista da história, o Eminem DO MAL do universo One Piece, o Falso Deus Enel (porque o único verdadeiro é God Usopp!!). A propósito, preciso confessar que fiquei bastante surpreso ao descobrir que tem muita gente que gosta do dito cujo. Quando li o mangá na minha adolescência, a minha principal decepção com a saga foi justamente ele. Por conta disso, durante essa minha segunda visão da história, decidi que tentaria vê-lo com outros olhos, a fim de enxergar as mesmas qualidades que estes fãs enxergaram.

Meus caros leitores, eu juro que tentei, mas não rolou!

O conceito por trás do vilão não é ruim. Enel é um cara que claramente pirou na batatinha após adquirir os poderes da sua Fruta do Diabo (Akuma no Mi), a Fruta do Relâmpago (Goro Goro no Mi), a ponto de destruir a sua própria terra natal. Ao usurpar o título de “Deus” de Gan Fall, ele simplesmente levou o significado do título ao pé-da-letra e ficou ainda mais insano, chegando a condenar duas civilizações inteiras à destruição por achar que seres humanos não deveriam viver sobre as nuvens.

O autor usou aqui o mesmo “template” do antagonista usuário de Akuma no Mi do tipo Logia (o grande terror da primeira fase da obra) que vimos em Crocodile, só que com muito mais esteroides e orelhas. Em comparação com ao “Rei do Deserto”, o Falso Deus é muito mais arrogante e poderoso... só que tem o carisma de um pote de maionese. Ele não conta com 10% do “magnetismo vilanesco” que o seu antecessor fodão possuía.

Aí que está o meu problema com o vilão. Conforme ele vai aparecendo na história, o excesso de arrogância sem qualquer contraponto a esta característica logo o torna uma figura extremamente intragável. Como a partir do segundo ato ele começa a ter presença constante na aventura, chegou um momento em que eu torci para que o Luffy o arrebentasse na porrada o quanto antes porque eu NÃO AGUENTAVA MAIS ESSE CARA. Se a intenção era criar um vilão detestável, o Oda conseguiu porque eu o ODIEI. Para vocês terem uma ideia do tamanho da minha birra com este personagem, o único momento que tive alguma simpatia pelo Wyper (sim, o próprio) foi quando ele dá um belo susto na “divindade”.

Quando insisto que o Enel é péssimo, o maior exemplo que me vem à mente para embasar esse argumento é o Donquixote Doflamingo. Vejam bem, o regente de Dressrosa é mais arrogante que o Falso Deus, é mais apelão em combate do que ele, é tão participativo em sua trama quanto ele e, ainda, é muito mais cruel e impiedoso. Doflamingo conta com as mesmas características do déspota de Skypiea (e em um tom ainda mais elevado), só que ele apresenta o tal “magnetismo vilanesco” que mencionei. Resultado? Um dos maiores vilões da obra.

Ou seja, mais um sinal, a meu ver, de que o Eminem Orelhudo não funcionou.

♪ Everybody Hates Enel
[Imagem 6: Reprodução/Crunchyroll/Toei]

Outra questão que me desagrada no déspota é a sua incompetência em acabar com seus adversários. Durante a sua participação, ele torrou inimigos com choques de 10.000 volts, disparou relâmpagos contra cabeça de adversários e ainda conjurou um ataque de área que mais parece um tiro de laser disparado pelo satélite do mal de 007: Um Novo dia Para Morrer (Die Another Day, 2002). Tirando dois figurantes, todo mundo que é atingido pelos seus ataques “devastadores” retorna inteiro alguns episódios depois. Se isso acontecesse apenas com os aventureiros, dava até para engolir. Mas quando Pagaya, que é um mero engenheiro, reaparece no final como se nada tivesse acontecido, mesmo após ter sido acertado EM CHEIO POR UM KAMEHAMEHA ELÉTRICO, aí não dá minha gente! ...

Ou ele é incompetente demais no uso de seus poderes ou ele comeu a versão de baixa corrente da Goro Goro no Mi.

Embora o elenco do arco seja a minha principal queixa, ela não é a única. Skypiea é um grande desserviço a One Piece na pancadaria. O enredo até apresenta situações de combate que envolvem todos os Chapéus de Palha, mas com exceção da primeira luta entre Luffy e Enel (que por mim não teria uma segunda), as demais são fraquíssimas. Os péssimos antagonistas, as técnicas de combate sem muita inspiração e falta emoção tornam as batalhas em algo bastante burocrático uma forma bonita de dizer chatas demais.

O maior exemplo disso é Zoro vs Ohm. Na primeira aparição do sacerdote, o fato de carregar uma espada automaticamente faz com que esperemos por uma treta entre ele e o Solador favorito da galera. Quando ambos finalmente ficam frente-a-frente enquanto a noite cai, em vez de um belo duelo entre espadachins, presenciamos a um rápido esconde-esconde que termina com a vitória Caçador de Piratas após acertar um único golpe em seu adversário (e nem vou comentar sobre o mantra não ter funcionado). A única coisa que se salva aqui são as participações sempre bem-vindas do Holy.

Sério, este cão merecia mais espaço.

A grande verdade é que as batalhas desta trama são esquecíveis, o que é um grande pecado para um “shounen de lutinha”. E veja bem, mesmo estando a muito tempo afastado da obra, ainda me recordava de grandes embates como os que aconteceram em Arlong Park, Alabasta, Enies Lobby e até mesmo em Thriller Bark (adoro a luta contra o Oz). Só que aqui, por exemplo, não tinha memória alguma da luta da Robin e nem do seu adversário. Sendo bem franco, eu mal lembrava do grande confronto decisivo da saga.

Por fim, outra questão que compromete muito é a falta de apelo emocional durante boa parte do enredo. Apesar do Battle Royale criado por Enel (que poderia funcionar se o elenco fosse bom), este apelo só começa a ser efetivo justamente nos finalmentes, quando o Falso Deus resolve destruir a Ilha do Céu, criando assim uma situação de extrema urgência. E quando o flashback do Noland liga os eventos do passado com o presente, o drama fica ainda mais intensificado.

Dito isso, o final da história é sim muito legal e emocionante. O problema é chegar até lá.

Enel se lascou
Quando vejo a fatura do cartão do mês passado.
[Imagem 7: Reprodução/Crunchyroll/Toei]

Dito tudo isso, confesso que rever o arco foi uma experiência interessante. Mesmo não gostando do vilão principal (foi mal pessoal, mas ele é um saco) e torcendo nariz para algumas questões, passei a valorizar muitos aspectos apresentados pela aventura. E sim, o meu conhecimento das tramas posteriores foi fundamental para perceber as “joias” que ali se encontravam. Por sinal, méritos do Oda que soube agregar valor a uma história antiga ao desenvolver os ganchos oportunos que estavam ali presentes. Fazendo uma comparação com cinema, o mangaká fez a mesma coisa que os filmes da série Creed fizeram com Rocky IV (1985).

Sei que fui exigente em algumas críticas (minha patroa mesmo não concordou com a minha posição sobre a Laki), mas existe um motivo claro para isso: este arco acontece justamente após Alabasta, que é simplesmente uma das melhores histórias do anime/mangá. Os épicos eventos na terra dos Nerfetari elevam o nível de tal forma que convenhamos, é difícil não comparar um com o outro. Reconheço que o autor se empenhou bastante em elaborar algo tão legal quanto o seu trabalho anterior, mas aqui ele não conseguiu. Felizmente, ele acertará (e bem) em outras oportunidades.

Respondendo à pergunta do título, NÃO. Skypiea não é o pior arco de One Piece, mas também está longe de ser a grande aventura que se propõe. Ela está longe do padrão de qualidade dos grandes enredos da obra, mas apesar disso, acredito que é uma história que necessita ser vista/lida. Pulá-la é perder uma base muito importante para compreender muita coisa que virá a seguir. Além disso, dá sim para se divertir com algumas coisas, se você desconsiderar a existência de alguns personagens como como Satori, Wyper e o Eminem de Quinta Categoria não for chato como este que vos escreve.

E na moral, se for para pular um arco canônico, façam isso com a Davy Back Fight. Ela pode ser curtinha, mas é tão ruim, MAS TÃO RUIM que fará com que vocês olhem a Saga da Ilha do Céu com outros olhos.

Será que isso foi de propósito, Eiichiro Oda?

----------------------------------------
Pois bem pessoal, este foi mais um artigo da coluna "Penso, Logo Digito".

Quem acompanha o blog a mais tempo, sabe que não costumo repetir as colunas. Mas dessa vez, resolvi abrir uma exceção à própria regra que criei pois queria muito falar sobre esta saga. E esta era a melhor coluna para o tipo de argumento que eu desejava escrever. Já digo de antemão que o próximo artigo será de um tipo diferente (estou com saudades de escrever um “Tirou do Baú”).

Mas e aí, gostaram do texto? Desejam ajudar com alguma referência não citada, corrigir alguma informação equivocada ou simplesmente me xingar muito por achar o Enel um bosta completo vilão ruim? Se a resposta para alguma das perguntas acima é sim, a nossa área de comentários é o local onde vocês podem participar da discussão apresentada.

Além de comentar, sintam-se à vontade para compartilhar o link deste texto com seus amigos, familiares, colegas de trabalho, enfim...com gente que vai se interessar pelo conteúdo. Acreditem meus caros leitores, a participação de vocês é o que move a existência da Nerdologia Alternativa. ;)

Um grande abraço a todos e até a próxima.

OBS: Sei que isso é repetitivo, mas ainda estamos enfrentando uma situação de pandemia no mundo. Caso necessitem sair de casa, usem máscara, lavem bem as mãos e fiquem atentos ao distanciamento social. E claro, não deixem de se vacinar quando a oportunidade surgir. Cuidar da gente é também um ato de amor ao próximo. ;)

OBS2: A última imagem do artigo está em uma qualidade superior pois foi retirada do Episódio de Skypiea (Episōdo obu Sorajima, 2018), um especial de 105 minutos que resume o arco. Ele foi ao ar no dia 25 de agosto de 2018.

---------------------------------------------------
Quer ter uma imagem associada a seu comentário?
Clique aqui e veja como \o/

Sugestões, críticas, elogios?
Envie para nerdologialternativa@gmail.com

Acompanhe nossas postagens via twitter: @NerdAlt
Ou através de nossa página no Facebook

Postar um comentário

0 Comentários