[Tirou do Baú] Mobile Suit Gundam


Feliz ano novo, meus caros leitores.

Depois de mais um hiato de seis meses sem postagens no blog (mas com atualizações diárias em nossa página do Facebook e do Twitter), estamos de volta com grandes novidades. A primeira novidade é que hoje teremos enfim um artigo inédito (e não "requentado") da coluna Tirou do Baú. E a segunda e mais relevante é que, ao contrário de todas as outras edições, a obra em questão NUNCA foi exibida no Brasil.

Pois bem meus caros leitores, em comemoração aos 40 anos dessa franquia (que serão comemorados agora em 2019), hoje trago a vocês um artigo sobre um dos grandes clássicos da animação japonesa, Mobile Suit Gundam.


Ficha Técnica

Mobile Suit Gundam (Kidou Senshi Gundamu, 1979-1980)
Ação | Guerra | Ficção Científica

Produção: Sunrise.
Temporadas: 1.
Episódios: 43.
Exibição original: Nagoya Broadcasting Network.
Exibição nacional: Inédito no Brasil.

Que o Japão adora robôs gigantes, isso não é nenhuma novidade. Esses gigantescos autômatos estão presentes em praticamente todas as vertentes do entretenimento nipônico, nas mais variadas temáticas. Podemos encontra-los em produções de super-herói (O Fantástico Jaspion), fantasia (Guerreiras Mágicas de Rayearth), distopia apocalíptica (Neon Genesis Evangelion), policial (Patlabor), espionagem (Metal Gear Solid) e até mesmo comédia (Full Metal Panic!).

No entanto, é no gênero guerra onde se encaixa grande parcela das obras e onde reside o maior expoente sobre o assunto, a franquia Mobile Suit Gundam (Kidou Senshin Gundamu). Com quatro décadas de existência, os Gundans se encontram espalhados em praticamente todos os meios do entretenimento japonês, chegando até mesmo em Hollywood com a participação do modelo RX-78-2 em Jogador N°1 (Ready Player One, 2018), de Steven Spielberg.

Em 1979, o roteirista e animador Yoshiyuki Tomino elaborava a sua próxima obra com mechas*. Com a pretensão de produzir algo totalmente novo e, principalmente, que não fosse mais um anime genérico de robôs feito apenas para vender produtos licenciados, Tomino usou toda a sua bagagem cinematográfica para construir um drama sobre a guerra com elementos de ficção científica. E foi assim, meus caros leitores, que nasceu o primeiro anime da série Gundam.


Universal Century 0079

Char Aznable e Amuro Ray, a maior rivalidade dos animes depois Goku e Vegeta, Light e L, Spike vs Vincent...
"Meio século se passou desde que o homem começou a habitar o espaço sideral. Colônias espaciais gigantescas na órbita da Terra se tornaram a segunda casa da humanidade, onde as pessoas nascem, crescem e morrem. Ano Universal Century 0079, o grupo de colônias mais distante da Terra, Side 3, declararam a si mesmo como o Principado de Zeon, e começam uma guerra clamando independência do governo da Federação da Terra. Tanto Zeon como a Terra perderam metade de suas respectivas populações apenas no primeiro mês do conflito. As pessoas começaram a temer suas próprias ações. Oito meses se passaram e os dois lados ainda não chegaram a um acordo."
Com o Zeon ganhando vantagem no conflito através do uso de seus revolucionários Mobile Suits (grandes robôs de estrutura humanoide), a Federação da Terra resolve desenvolver os seus próprios mechas, visando assim "equilibrar o jogo". Com três protótipos desenvolvidos através do Projeto V, a Federação resolve esconde-los em Side 7, uma colônia espacial fora da zona de guerra, onde as novas armas poderiam ser testadas. Os Suits são transportados para a colônia através da mais nova e moderna nave de combate das forças terrestres, a SCV-70 White Base.

As informações sobre o transporte acabam vazando para Principado de Zeon, que coloca uma força chefiada pelo Char Aznable, um talentoso piloto de Mobile Suit que esconde seu rosto por trás de uma máscara. para coletar informações sobre as novas armas da Federação. Ao se aproximar de Side 7, Char envia três pilotos a bordo de MS-06F Zaku II para uma missão de reconhecimento. Contudo, o plano sofre uma inesperada mudança quando um dos pilotos resolve destruir os protótipos com as próprias mãos, iniciando um violento ataque na área urbana da colônia.

Em meio ao caos e destruição causados pelos Zakus, o jovem Amuro Ray resolve sair do abrigo de emergência para ir atrás de seu pai. Quando o encontra (juntamente com o novo robô da Federação), ele presencia uma multidão inteira de civis, incluindo a família de sua amiga Fraw Bow, ser morta no fogo cruzado contra os soldados de Zeon. Sem pensar, o jovem resolve enfrentar os invasores usando o Mobile Suit que ele havia encontrado, o Gundam RX-78-2. Mesmo sem experiência como piloto, o jovem é capaz de vencer os inimigos graças a força do Gundam, entretanto, o confronto acabou gerando danos bastante severos a Side 7, obrigando os sobreviventes a evacuar a colônia a bordo da White Base.

Tragados para o centro do conflito, Amuro e um grupo de civis precisarão se transformar em verdadeiros soldados se quiserem sobreviver. E mais do que enfrentar os melhores pilotos do Principado de Zeon, eles terão que encarar os horrores que uma guerra pode proporcionar.


AVANTE! AVANTE! AVANTE, GUNDAM!

A tripulação da White Base, jovens forjados no campo de batalha.
Embora atualmente seja reconhecida como um dos marcos do gênero, Mobile Suit Gundam não obteve o mesmo prestigio quando foi ao ar. Acostumado com séries de robôs gigantes voltadas para o lado fantástico/heroico como Mazinger Z (Majingā Zetto, 1972 - 1974) e Getter Robot (Gettā Robo, 1974 - 1975), o público não recebeu com entusiasmo o drama de guerra com mechas. Por conta desta fria recepção, os 50 episódios inicialmente planejados para o anime foram reduzidos para 39. Contudo, graças a uma reunião entre Tomino e os patrocinadores, a série pode contar com a produção de mais quatro episódios, possibilitando um desfecho satisfatório (mas apressado) para a história.

O interesse pelo anime só surgiu após o seu término (alguém disse Star Trek?). Interessada na comercialização dos produtos licenciados, a Bandai adquire a licença de MSG e passa a vender no mercado os model kits nome bonito para bonecos dos robôs e veículos da série animada, as famosas Gunplas (uma abreviatura para Gundam Plastic Model Kits). O sucesso na venda dos produtos atiçou a curiosidade das pessoas, que passaram a acompanhar as das reprises da animação. Esse crescente interesse animou a Sunrise (estúdio responsável pelo desenho) a investir na produção de três longas metragens para cinema recontando a história da obra, incluindo novas cenas e alterando alguns detalhes na trama.

Com o sucesso dos três filmes, Tomino e a Sunrise se unem mais uma vez para a produção da primeira continuação direta da série original, a também aclamada Mobile Suit Zeta Gundam (Kidou Senshi Zeta Gundam, 1985 - 1986). E a partir desse ponto meus caros leitores, foi só alegria. A marca Gundam virou uma potência do entretenimento nipônico, a Sunrise se transformou em um dos grandes estúdios da animação no Japão e Yoshiyuki Tomino estabeleceu o seu nome no mundo das animações.

Bright Noa Slap, transformando garotos em homens desde 0079.
Mobile Suit Gundam não só estabeleceu um novo paradigma para as produções animadas de robôs gigantes como também representou o amadurecimento de Tomino frente a temática. Em seus trabalhos anteriores, ele já demonstrava vontade de "desconstrução de gênero" em Invincible Super Man Zambot 3 (Muteki Chōjin Zanbotto 3, 1977 - 1978). Apesar da premissa ser similar a vários animes da época (jovem que pilota um super robô para combater as forças do mal), ela inovou ao mostrar os efeitos colaterais das batalhas em uma narrativa com maior maturidade e uma atmosfera muito mais sombria.

Com MSG, ele vai mais além. Sai de cena o eterno embate entre bem e o mal e entra o conflito com raízes políticas. Outra mudança significativa fica por conta da abordagem do confronto. A série abre mão de uma visão mais romanceada por uma mais crua, mostrando o quão vil, cruel e devastadora uma guerra pode ser. Imerso nesse cenário, o espectador não fica restrito apenas ao ponto de vista de Amuro e seus companheiros sobre o evento. Ele tem acesso também a ótica dos soldados da Federação, dos soldados de Zeon e dos civis, tanto da Terra quanto das Colônias.

Por meio desses pontos de vistas distintos, observamos que os espaçonóides (spacenoids) e os terráqueos não são tão diferentes assim. É lógico que cada indivíduo reagirá a guerra de uma forma bastante pessoal (com facetas de sua natureza sendo aflorada ou até mesmo transformada), mas no fim das contas, o que a grande maioria dos envolvidos deseja é proteger seus entes e queridos e poder retornar para a sua vida normal.

Juntamente da parte dramática, a ficção científica desempenha papel fundamental no enredo. Além de apresentar conceitos clássicos do sci-fi como viagem especial, colônias espaciais e robôs (claro), Tomino e sua equipe criaram os seus próprios elementos científicos para série. As Partículas Minovsky, por exemplo, surgiram da necessidade de encaixar duas forças militares rivais em um mesmo frame de animação. No Universal Century, elas são usadas nos propulsores de naves espaciais e de mobile suits, permitindo a locomoção no espaço. Contudo, ao serem liberadas, elas interferem fortemente nos canais de comunicação e sistemas de mira inteligente, obrigando os dois lados do conflito a se aproximar para lutar (e consequentemente, resolvendo o problema na produção dos frames).

Introduzido aos 45 minutos do segundo tempo, o conceito dos Newtypes foi outra grande adição ao enredo da série, embora seja melhor explorado (e até mesmo contextualizada) nas sequências do anime. Eles representavam um novo estágio da evolução humana, atingida quando o corpo se adapta a vida no espaço. Um Newtype apresenta um nível sobre-humano de consciência espacial, podendo inclusive sentir as emoções dos outros (que é regularmente usado para detectar e reagir aos ataques inimigos). Em alguns casos, eles são capazes de desenvolver habilidades telepáticas ou de psicocinese.

E nem preciso mencionar que a combinação Newtype + Gundam é algo extremamente apelativo. :P

"- Comandante Char, o que faremos hoje?
- A mesma coisa que fazemos todos os dias soldado, tentar destruir a Trojan Horse.
"
Em sua galeria de personagens, Gundam conta com várias representações típicas de figuras presentes em obras de guerra. Temos, por exemplo, o oficial de baixa patente que herda a responsabilidade de comando (Bright Noa), o oficial de alta patente que quer mostrar o seu valor (Garma Zabi), o oficial que perde a própria sanidade (Tem Ray), os órfãos do conflito (Katz, Letz e Kikka), os jovens forçados a amadurecer (Amuro Ray, Fraw Bow, Hayato Kobayashi, Kai Shiden), o déspota (Degwin Sodo Zabi), os que se sacrificam para um bem maior (a lista é longa) e claro, os soldados rivais (Amuro Ray e Char Aznable).

A rivalidade entre Amuro e Char não representa apenas um dos grandes pontos fortes da série original. Ela é tão icônica dentro da franquia quanto os próprios personagens. Além de resultar em grandes embates, ela é um “tempero a mais” no desenvolvimento dos dois personagens. Surgindo como uma rixa entre pilotos de Mobile Suits de lados opostos, ela evolui para um grande ressentimento pessoal após resultar em uma grande tragédia na vida de ambos. Essas cicatrizes irão reverberar nas sequências da história, gerando gravíssimas consequências para o futuro.

Ao entrar no cockpit do Gundam, Amuro Ray mal imaginava que estava mergulhando de cabeça na guerra. Com o seu lar destruído e abordo de uma nave com falta de contingente, ele se vê obrigado pilotar o RX-78-2 em prol de sua sobrevivência e dos demais tripulantes. Inicialmente, a sua imaturidade e o fardo de suas ações causarem mortes no campo de batalha lhe acarretam momentos de extrema fragilidade. Contudo, ao perceber que sua omissão resultaria em algo ainda pior, ele se entrega de corpo e alma a função de piloto

Conforme as batalhas vão passando, o protagonista não só aprimora as suas habilidades como piloto como também se desperta como um newtype. Entretanto, ao mesmo tempo em que evolui como um guerreiro, ele progressivamente vai se tornando uma pessoa mais reclusa. O aparecimento da newtype Lalah Sune até reacende a chama da sua humanidade, mas a morte acidental da garota pelas suas mãos cria uma ferida na alma que o acompanhará para sempre.

Particularmente, gosto bastante desse arco protagonizado por Amuro. Ao mesmo tempo que o conflito faz com que ele atinja um novo estágio na evolução humana, isso acaba lhe custando a sua própria humanidade. Com o surgimento de Lalah, cheguei acreditar que ele poderia se recuperar. Mas aí o roteiro de Yoshiyuki Tomino nos lembra (mais uma vez) que não existe conto de fadas em uma guerra.

THIS IS ZEON!!!
Se o lado da Federação da Terra conta com o melhor piloto de Mobile Suit, o Principado de Zeon conta com o melhor personagem da série (e quiça, o melhor personagem criado por Tomino). Em uma época onde os antagonistas de animes de mechas eram figuras caricatas e unidimensionais, Char Aznable representava a antítese a esse paradigma. Enigmático, carismático, orgulhoso, o mascarado era muito mais do que um mero empecilho aos heróis. Ele conta com a sua própria jornada na trama, motivada por um elaborado background.

Filho de Zeon Zum Deikun, filosofo e fundador da República de Zeon, Casval Rem Deikun (seu nome verdadeiro) e sua irmã Artesia (a verdadeira identidade de Sayla Mass) são obrigados a fugir de seu lar (a colônia Side 3) após seu pai ser assassinado por Degwin Zabi. Alimentado por um grande desejo de vingança contra o clã Zabi, Casval assume a identidade (e o elmo de Darth Vader) de Char Aznable e se alista na escola militar do (agora) Principado de Zeon, visando assim se aproximar dos responsáveis por destruir a sua vida e a de sua família. Graças ao seu talento como piloto de MS, ele rapidamente avança na hierarquia militar. Seus feitos não só passaram a ser reconhecidos por aliados e inimigos como também lhe renderam o apelido de Cometa Vermelho (Red Comet).

Char é uma figura complexa e intrigante. Suas ações ora são dignas de um nobre líder, ora denotam traços de um grande sociopata. Embora passe a imagem de uma pessoa benevolente e paciente a seus companheiros, em seu âmago ele não nutre qualquer empatia por eles, os enxergando apenas como meros peões no cumprimento de seus objetivos. Apenas três pessoas foram capazes de "romper essa casca" criada pelo antagonista: Sayla Mass (uma parte do seu passado no qual ele tenta proteger), Lalah Sune (a newtype que roubou o seu coração) e Amuro Ray (o homem que feriu o seu orgulho como piloto). E curiosamente, são as ações desse trio que resultam em um novo episódio trágico em sua vida

É válido ressaltar que a série também conta com grandes coadjuvantes (como Kai Shiden, Ryu Jose, Ramba Ral), mas gostaria apenas de comentar rapidamente sobre Sayla Mass e Bright Noa. Sayla é a melhor representante feminina do anime. Além de compartilhar o mesmo background trágico de seu irmão, Artesia é um dos personagens que mais evoluem na trama, começando como uma estudante de medicina e terminando como um dos principais pilotos da White Base, sendo essencial em diversas batalhas. E falando em evolução, temos claro Bright FUCKING Noa, o oficial júnior que se transformou no capitão da nave que mudou o curso da guerra. Com seu contingente formado especialmente por civis, ele não só mostrou aptidão em extrair o melhor de seus comandados nem que seja no tapa como também mostrou uma incrível capacidade de contornar situações difíceis (e que não foram poucas).

E mesmo não possuindo o “quilate” de um Amuro e de um Char, Noa é uma figura extremamente relevante dentro do Universal Century, contando com participações em vários eventos decisivos ao longo desta linha cronológica.

Uma bela história de amizade.
Obviamente que possuir uma boa história, com grandes personagens e uma abordagem mais complexa sobre a guerra são aspectos muito importantes...mas convenhamos, o que todos nós procuramos em um anime com robôs gigantes é uma pancadaria de responsa. E nesse quesito, meus caros leitores, o Gundam original não faz feio.

Com algumas raras exceções - como o episódio onde bombas relógio são plantadas no Gundam - há batalhas em quase todos os capítulos. Os combates acontecem nos mais variados cenários, indo desde desertos, ar, florestas, fundo do mar, galerias subterrâneas e claro, o espaço a fronteira final. Cada ambiente apresenta as suas próprias peculiaridades, sendo normalmente exploradas pelos inimigos da White Base (para o desespero de Amuro & cia). Além dos Mobile Suits, as batalhas do desenho ainda contavam – dependendo do ambiente – com naves de batalha (espaciais e terrestres), caças, aviões cargueiros, tanques de guerra e Mobile Armors (gigantescos robôs de aparência não humanoide), sendo esses últimos armas exclusivas do Principado de Zeon.

Em Mobile Suit Gundam são exploradas duas situações de combate: a primeira são as forças de Zeon perseguindo a Trojan Horse (termo utilizado por eles para se referir a White Base) para tentar abate-la e a segunda são as batalhas capitais do conflito. No primeiro caso, os grandes combates normalmente envolvem Amuro e seus companheiros contra um ás do exército inimigo, como o próprio Char Aznable, Ramba Ral, os Black Tri-Stars e M'quve. Já no segundo caso, a White Base se junta ao exército da Federação para medir forças contra o Principado. São as três grandes batalhas apresentadas pelo desenho: a Batalha de Odessa, a Batalha de Solomon e o derradeiro (e melhor) confronto da guerra, a Batalha de Baoa Qu.

Como o próprio título faz questão de ressaltar, a grande estrela do anime é o Gundam. Para quem já assistiu a outras séries da franquia, ele pode parecer um modelo bastante simplório (especialmente quando comparado a um Strike Freedom da vida), mas não se deixem enganar pelas aparências, pois esse Mobile Suit não recebeu o apelido de White Devil (Demônio Branco) à toa. O RX-78-2 é uma arma tão poderosa que permitiu um civil sem experiência alguma encarar verdadeiros ases das forças inimigas. Além disso, com uma tripulação totalmente inexperiente, Bright Noa e seus comandados só conseguiram sobreviver as primeiras batalhas graças a força deste mecha.

E o que faz esse Suit tão poderoso? Além de um poderio defensivo (sua estrutura foi construída com base em Luna Titanium Alloy, uma liga leve e super resistente) e ofensivo (seu arsenal conta com duas metralhadoras vulcânicas na cabeça, dois sabres de energia que podiam se converter em lanças, um rifle de feixe com força equivalente à de uma nave de batalha, um lança foguetes...e um mangual o_O) muito acima dos rivais, ele ainda contava com uma sofisticada IA que armazenava os dados dos inimigos durante as batalhas, permitindo o Gundam operar com ainda mais eficiência.

Posteriormente, ele ainda receberia duas unidades de suporte – os G-Fighters, capazes de se acoplarem ao Mobile Suit ou serem usadas de forma totalmente independente - e um aprimoramento estrutural (Magnetic Coating) para melhorar o tempo de reação da máquina uma vez que após o despertar de Amuro como um newtype, ela não estava acompanhando com o mesmo nível de precisão os comandados dados pelo piloto.

O Gundam RX-78-2 come Zakus no café da manhã.
Sinceramente, o RX-78-2 é o único robô realmente interessante da Federação. Todos os outros modelos ou são extremamente genéricos (RX-77-2 Guncannon, RX-75-4 Guntank e o RGM-79 GM) ou são extremamente bizarros (RB-79 Ball). Dos citados, os que mais se destacam são o Guncannon e o Guntank justamente por serem parte do arsenal da "Base Branca". Em combate, enquanto o primeiro já se mostrou útil em alguns momentos, o segundo é o grande saco de pancadas da turma. E para ajudar, ele ainda é pilotado pelo membro mais incompetente bucha da tripulação, Hayato Kobayashi.

Por serem protótipos do mesmo projeto (Project V), os três MS das White Base contavam com o Core Block System, um sistema que os permitia serem separados em módulos. O módulo principal (onde ficava a cabine de piloto) consistia de um caça FF-X7 Core Fighter, capaz de se desacoplar e agir de forma autônoma. Dos três modelos, o Gundam era o único com a capacidade de realizar o processo de conversão de seus módulos de forma independente, podendo fazer esse processo inclusive durante as batalhas, mas sempre com o risco de ser atingido pelas forças inimigos (ou vocês achavam que eles esperariam pela transformação? :P).

Em questão de preferência, devo confessar que tenho uma preferência pelos modelos produzidos por Zeon. Não faço ideia se houve a intenção por parte de Kunio Okawara (o Mechanical Designer do anime), mas a impressão que tive é que por possuir mais experiência na fabricação de Mobile Suits, o Principado foi capaz de elaborar robôs como muito mais “personalidade”. E de fato, o MS-06 Zaku II, MS-07B Gouf, MS-09B Dom e MSN-02 Zeong contam com um visual muito mais ameaçador do que qualquer máquina elaborada pela Federação.

Um aspecto muito interessante sobre o Suits do Principado é a existência de múltiplas versões para seus modelos. MS-06S Zaku II Commander Type, MS-07B Gouf M'Quve Custom  e o MS-09R Rick Dom são algumas das versões customizadas que aparecem no desenho animado. Inclusive, Char pilota vários modelos de Commander Types durante a história, onde todos obviamente apresentavam a cor vermelha. Aposto que se ele tivesse algum tempo antes de Baoa Qu, ele pintaria o Zeong de vermelho também. :P

Aquele ship que nunca aconteceu.
Além dos Mobile Suits, o Principado de Zeon também foi pioneiro na produção dos Mobile Armors. Mesmo não contando com o mesmo “charme” dos Zakus e afins, os Armors contavam com um grande diferencial sobre os Suits convencionais: o seu grande poder de destruição. Os mais memoráveis certamente foram o MA-08 Big Zam (pilotado por Dozle Zabi durante a Batalha de Solomon) e o MAN-08 Elmeth (pilotado por Lalah Sune).

Embora seja um dos grandes clássicos do gênero, Mobile Suit Gundam apresenta certas características de sua época de produção que possivelmente não sejam atraentes ao público atual. Certamente, o maior entrave ao espectador moderno será a qualidade da animação. Afinal de contas, estamos falando de um desenho animado para televisão, realizado com recursos e técnicas de animação de QUARENTA ANOS atrás. Yoshiyuki Tomino e sua equipe conseguiram tirar leite de pedra com um orçamento apertadíssimo, porém isso não impediu que o resultado final ficasse com uma série de problemas como quadros mal-acabados, erros de continuidade e de consistência (em cada episódio, o Gundam tinha uma aparência diferente O_O).

Outro aspecto de animação que pode causar estranhamento - mas que não é exatamente um problema - é a aparência dos robôs e dos personagens. Enquanto as máquinas apresentam um design bem mais simplificado (até porque era muito mais fácil de se animar), a identidade visual do elenco escolhida por Yoshikazu Yasuhiko (o Character Design da produção) seguia um estilo muito presente na década de 70. Em certos momentos, parecia que a inspiração para o traço vinha do lendário Leiji Matsumoto,

Pessoalmente, o maior problema que tive com a série animada foi com o seu ritmo narrativo. Além do enredo principal caminhar a passos curtos, ainda há a presença dos temíveis fillers que, embora apresentarem situações criadas pela guerra, colaboravam com a lentidão da trama. Nos treze últimos episódios, o ritmo fica mais acelerado graças a possibilidade de cancelamento da série (o que fez Tomino correr com a história). E de fato, a parte final é muito mais agradável de se acompanhar. Mas por outro lado, esse aceleramento fez com certos detalhes da história que mereciam um pouco mais de desenvolvimento fossem rapidamente explorados (como o conceito dos newtypes).

Sendo um fã de alguns exemplares da franquia, confesso que senti falta de uma trilha sonora mais marcante no desenho. A obra até conta com boas músicas incidentais (como é o caso da bacaníssima Gallant Char), mas o repertório é extremamente limitado. Com relação as canções, a produção apresenta apenas duas: a bacana canção de abertura Fly! Gundam (Tobe! Gundamu) e a insossa canção de encerramento Amuro Forever (Eien ni Amuro), ambas intepretadas por Koh Ikeda.

No espaço, as explosões são cor-de-rosa.
Se esses últimos detalhes não acabaram com a sua curiosidade, meu caro leitor, recomendo que vá atrás do anime. Além de apresentar uma grande história sobre guerra com robôs gigantes, a obra é o marco zero para compreender melhor todas as outras que se passam na cronologia da Universal Century. Digo por experiência própria, pois séries dessa linha temporal que assisti anteriormente como Mobile Suit Gundam: The 08th MS Team (Kidou Senshi Gundamu: Dai 08 MS Shoutai, 1996 - 1999) e Mobile Suit Gundam Unicorn (Kidou Senshi Gundamu Unicorn, 2010 - 2014) passaram a fazer muito mais sentido.

Agora...se você quer conhecer a história da animação, mas não tem coragem de encarar 43 episódios produzidos a quarenta anos atrás, recomendo que vá atrás dos três de longas metragens produzidos após o final da série. Além de resumirem a história (cortando todos os fillers), os filmes contam com uma animação levemente superior além de novos detalhes inseridos na trama.

A escolha fica por conta de vocês. ;)


* abreviatura de mechanical, é um termo usado para designar um robô gigante.


Algumas Curiosidades
  • Dentro da cronologia Universal Century, a guerra que se passa na série original ficou conhecida como One Year War.
  • Em seu time de dubladores, a série contou com nomes como Tōru Furuya (Amuro Ray), Shūichi Ikeda (Char Aznable), Hirotaka Suzuoki (Bright Noa), Yō Inoue (Sayla Mass), Toshio Furukawa (Kai Shiden), Fuyumi Shiraishi (Mirai Yarashima), Rumiko Ukai (Fraw Bow), Kiyonobu Suzuki (Hayato Kobayashi), Shōzō Iizuka (Ryu Jose), Masashi Hirose (Ramba Ral), Keiko Han (Lalah Sune), Katsuji Mori (Garma Zabi).
  • A ideia original que Yoshiyuki Tomino tinha em mente era muito mais pesada: Amuro morreria na metade da série, a tripulação da White Base se veria obrigada a se aliar com Char (que receberia um Gundam Vermelho, claro) para posteriormente ter que enfrenta-lo novamente após ele tomar o controle do Principado de Zeon. Esse conceito acabou sendo utilizado em uma série de novels escritos por Tomino logo após a conclusão do anime. Alguns elementos inclusive acabaram sendo aproveitados em Mobile Suit Zeta Gundam e não, o protagonista de Zeta Gundam não morre na metade da história.
  • As batalhas de Solomon e Baoa Qu foram originalmente planejados para serem muito mais elaboradas, com direito até a um modelo exótico de Mobile Suit para defender as duas fortalezas de Zeon.
  • Originalmente, o design do Gundam idealizado por Tomino e Okawara apresentava o Mobile Suit com um tom leve de cinza. Entretanto, buscando uma linha de brinquedos comercializável, os patrocinadores acabaram prevalecendo sobre a dupla e decidiram que o astro robótico do show deveria apresentar as cores branco, vermelho, azul e dourado. Anos mais tarde, um retcon seria criado para explicar que esse padrão de cores era utilizado para demonstração de protótipos (o que mostra que a Federação tem um gosto um tanto quanto exótico).
  • Para criação dos Mobile Suits. Tomino se inspirou nos Power Suits do livro de ficção científica Tropas Estelares (Starship Troopers, 1959).
  • Em uma das novels, o RX-78-2 era branco com alguns tons de vermelho, lembrando o esquema de cores da X-Wing de Star Wars. Além disso, no lugar Magnetic Coating, Amuro acabou recebendo um novo Gundam (o G3) que possuía justamente o primeiro esquema de cores imaginado por Tomino e Okawara.
  • Mobile Suit Gundam foi vencedor por duas vezes consecutivas (1979, 1980) da Anime Grand Prix, organizado pela revista Animage. No primeiro ano da premiação (1979), a série venceu apenas a categoria Melhor Anime. No segundo ano (1980), venceu novamente a categoria de Melhor Anime e ainda conquistou os prêmios de Melhor Episódio (pelo episódio "S01E43 Escape") e Melhor Personagem (Char Aznable).
  • Em comemoração aos 30 anos da franquia Gundam, a Bandai Namco construiu uma estátua de escala 1:1 (18 metros) do Gundam RX-78-2. Construida a partir de fibra de vidro reforçada (a liga Luna Titanium Alloy ainda não foi descoberta :P), a replica foi montada na região de Odaiba. Em 2011, ela foi desmontada para ser reconstruida em Shiozuka. Em 2012, ela retornou para Odaiba com uma gift shop a tiracolo chamada Gundam Front Tokyo. Em 2017, a estátua enfim foi desmontada em definitivo, dando lugar a uma réplica 1:1 do Gundam RX-0 Unicorn.
  • Seguindo as comemorações dos 30 anos da série, o músico Andrew W.K lançou em 2009 o álbum Gundam Rock, somente com covers das canções e músicas do anime original (e de seus filmes).
  • Dentro da própria franquia, Char Aznable conta com vários personagens inspirados em sua persona. Entre os seus clones mais famosos, temos Zechs Merquise (Gundam Wing), Rau Le Creuset (Gundam Seed), Neo Roanoke (Gundam Seed Destiny), Graham Aker (Gundam OO), McGillis Fareed (Gundam: Iron-Blooded Orphans) e Full Frontal (Gundam Unicorn).
  • Amuro Ray foi certamente a inspiração para criação dos personagens Kira Yamato (Gundam Seed) e Banagher Links (Gundam Unicorn).
  • O relacionamento entre irmãos de Sayla Mass com Char Aznable é semelhante ao de Relena Darlian e Zechs Merquise (Gundam Wing).
  • O sistema de módulos do Impulse é bem semelhante ao do RX-78-2, com um caça (o YFX-M56S Core Splendor) servindo de cabine para o piloto e núcleo do Gundam.


Aberturas e Episódios



Abertura Original (Fly! Gundam)




Encerramento Original (Amuro Forever)




Episódio 1: Gundam Pisa em Terra Firma




Episódio 2: A Ordem para Destruir o Gundam




Episódio 3: Ataque à Nave de Suprimentos do Inimigo!

A quem interessar, o restante dos episódios estão disponíveis (por enquanto) no canal do Christoph Fanton.

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Enfim meus caros leitores, este foi mais artigo da seção Tirou do Baú.

Gostaram do artigo? Desejam ajudar com alguma referência não citada, corrigir alguma informação  ou simplesmente me xingar?

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Obs: um agradecimento especial a minha amiga Yasmine, que me ajudou com uma breve consultoria sobre designs de personagens de animes antigos. 

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