[Penso, Logo Digito] Trilogia Star Wars da Disney: Uma Oportunidade Desperdiçada


Pois é meus caros leitores e amigos, demorou mas finalmente estamos de volta.

E desta vez, com uma grande novidade: a estreia da nova coluna "Penso, Logo Digito", um espaço onde dedicarei escrever opiniões diversas da nossa amada cultura pop sem a necessidade de seguir um padrão de artigo.

Como ponto de partida para esta nova seção e para a temporada de artigos do ano 2020, trago a vocês a minha humilde visão sobre o que deu errado com a Trilogia Star Wars da Disney. Sem mais delongas, vamos ao que interessa. ;)


Quando saí da sessão de Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith (Star Wars: Episode III - Revenge of the Sith, 2005), acreditava que aquela seria a última vez que assistiria um filme de Star Wars nos cinemas. Afinal de contas, além daquele ser o filme que fechava a trilogia que contava a queda de Anakin Skywalker para o lado sombrio, George Lucas já havia deixado claro que estava satisfeito com as histórias que apresentou em seus filmes.

Mesmo sem novos episódios cinematográficos, a franquia se manteve bastante ativa nos anos seguintes. A série em CGI Star Wars: A Guerra dos Clones (Star Wars: The Clone Wars, 2008-2020) – que chegou a ter o episódio piloto exibido nos cinemas – e os jogos da finada série The Force Unleashed e da série Battlefront (os da Pandemic Studios) foram fundamentais para manter a marca em relevância. E claro, não podemos nos esquecer também de outros produtos derivados, como livros do universo expandido, quadrinhos, action figures, camisetas, cereais, paródias pornô etc.

Embora as novidades nunca tivessem parado de aparecer, nada se comparava ao anúncio de um novo longa-metragem. E de fato, os filmes de Guerra nas Estrelas são verdadeiros eventos dentro da cultura pop. Afinal de contas, estamos falando de uma marca que foi responsável por solidificar o conceito dos blockbusters nos cinemas. E com o advento da internet, os estágios de produção passaram também a integrar o evento.

Bem...mesmo tendo os meus problemas com os trabalhos mais recentes do Tio George, devo confessar que acompanhar a produção de A Vingança dos Sith – o primeiro longa que fui aos cinemas realmente como um fã – foi uma experiência incrível. Aliás, o teaser trailer do Episódio III, que eu baixei no finado Kazaa e sem qualquer vírus embutido, foi certamente um dos trailers que mais assisti na vida.

Enfim, com o próprio Lucas decretando que não voltaria a trabalhar em um novo longa, tudo leva crer que não vivenciaremos tal evento tão cedo.

Ao menos, era o que acreditávamos.

"Sorria George, sua franquia estará em boas mãos...hô hô!"
Em 30 de Outubro de 2012, veio a bomba que ninguém esperava. De uma só vez, a Disney anuncia a compra da LucasFilm pela “bagatela” de US$ 4 bilhões de dólares – o mesmo valor que pagou pela Marvel anos antes – e de quebra ainda confirma a produção de Star Wars: Episódio VII, o primeiro de uma nova trilogia de filmes que continuaria a história de Luke & cia.

Não sei quanto a vocês, mas quando soube da notícia, fiquei maluco. E não era para menos, afinal era Star Wars novamente nos cinemas. Além de poder vivenciar novamente o grande evento que girava em torno dos filmes da saga, seria a oportunidade de rever Luke Skywalker, Leia Skywalker, Han Solo, Chewie, Lando Calrissian, R2-D2 e até o mala sem alça do C3PO.

Claro, houve uma pequena parcela do fandom que ficou com um pé atrás por conta da Casa do Mickey. Entretanto, o trabalho da empresa com o Marvel Cinematic Universe (MCU), que na época havia encerrado a sua Fase 1 com Os Vingadores (The Avengers, 2012), gerava uma boa expectativa de que ela seria capaz de desenvolver um trabalho tão bom quanto o que estava fazendo com as super produções da Marvel.

Outro ponto deixou uma parte dos fãs receosos era o não envolvimento de George Lucas no projeto. Contudo, a grande maioria (como este que vos escreve inclusive) estava satisfeita com a notícia. Vejam bem, meus caros leitores, é óbvio que ele merece todo o nosso respeito e reconhecimento pela obra fantástica que criou...mas os seus últimos trabalhos cof cof Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal cof cof conseguiram ter muito MAIS ERROS do que acertos.

Portanto, sangue novo era algo que poderia fazer muito bem a franquia.

Essa cena fez até o fã mais chatão exigentes ficar com os olhos marejados. :)
Três anos se passaram e, em dezembro de 2015, a franquia retornava oficialmente aos cinemas com Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: Episode VII - The Force Awakens, 2015). Com um elenco de novatos (Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac e Adam Driver), o retorno dos veteranos (Harrison Ford, Carrie Fisher, Mark Hamill, Anthony Daniels e Peter Mayhew), um diretor com bons filmes no currículo (J.J. Abrams) e trailers que emocionaram a todo o fandom, a produção chegou como uma das grandes promessas do ano.

O Despertar da Força foi um sucesso colossal. Além de conquistar excelentes críticas – algo quase que ausente na trilogia anterior – conseguiu a façanha de faturar mundialmente a quantia de US$ 2,066 bilhões, tornando-se o terceiro longa-metragem a ultrapassar a barreira dos 2 bilhões em faturamento. Mais do que fazer a alegria dos executivos da Disney, a produção era “uma nova esperança” dos fãs contarem finalmente com filmes cuja qualidade fosse próxima dos originais.

Mas nem os engravatados e muito menos os fãs imaginaram os distúrbios na força que viriam a seguir. Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: Episode VIII - The Last Jedi, 2017) conseguiu ter críticas ainda mais positivas que o seu antecessor, entretanto, ele acabou provocando uma enorme polarização entre o fandom. Financeiramente, o longa faturou US$ 1,321 bilhão e, embora seja uma senhora bilheteria, é um resultado BEM ABAIXO dos 2 bilhões obtidos pelo Episódio VII.

O desempenho abaixo do esperado e a cisão entre os fãs ligou o alerta amarelo na LucasFilm. Tanto que para o último filme eles jogaram pesado: além de trazer dos mortos um grande vilão dos filmes anteriores, eles tentaram de todas as maneiras atender os desejos do público com relação ao andamento da história. Resultado, Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: Episode IX - The Rise of Skywalker, 2019) recebeu críticas mornas dos especialistas, desagradou a quase todos os lados da polarização e até o momento faturou “apenas” US$ 1,074 bilhão, um valor ainda mais baixo que o seu antecessor.

Sério, meus caros amigos e leitores, como é que uma trilogia tão esperada e que começou tão bem conseguiu terminar com as pessoas usando hashtags como “VoltaGeorgeLucas”? O que faz de Os Últimos Jedi o grande ponto de virada nessa história? Por que mesmo tentando agradar a todos, A Ascensão Skywalker conseguiu deixar os fãs ainda mais irritados? E por fim, por que Persona 5 é um jogo tão bom?

Creio que a última pergunta terá que ser respondida em um outro momento...

"Sinto um distúrbio poderoso na força, Rey. Sinto muita raiva, tristeza e ressentimento logo abaixo."
Quando uma história precisa ser apresentada ao longo de múltiplos filmes, é necessário garantir que eles "se conversem" e "se respeitem" a fim de manter a coerência e a fluidez da trama como um todo. Em outras palavras, embora cada episódio cinematográfico se foque em um ponto específico da narrativa, eles também precisam lidar com as consequências e elementos introduzidos anteriormente para garantir a continuidade do enredo.

E é aqui onde temos uma das grandes falhas Trilogia Disney/LucasFilm. Tanto Os Últimos Jedi quanto A Ascensão Skywalker não se importam em dar andamento ao que foi apresentado por seus antecessores.

Querem ver só?

Em O Despertar da Força, J.J. Abrams inseriu o mistério dos pais da Rey (Daisy Ridley), um novo vilão com máscara negra (o Kylo Ren de Adam Driver), um novo Sith Lord na figura do Líder Supremo Snoke (Andy Serkis), a estilosa stormtrooper prateada Brienne de Tarth Phasma (Gwendoline Christie), mencionou a existência dos Cavaleiros de Ren e deixou subentendido que Finn (John Boyega) também teria despertado para a Força.

No episódio seguinte, temos uma troca na direção e nos roteiros da obra, cabendo agora a Rian Johnson a responsabilidade de ambos. E bem...é aqui onde os problemas começam. Em Os Últimos Jedi, o mistério dos pais da agora padawan é solucionado de forma simples (eles eram ninguém), Kylo destrói o seu capacete logo nos primeiros minutos de projeção, Snoke e Phasma são eliminados de maneira patética e sem qualquer aprofundamento de seus backgrounds, os Cavaleiros de Ren e o despertar de Finn são completamente ignorados.

Retornando a cadeira de diretor e aos roteiros em A Ascensão Skywalker, Abrams não deixou barato. O plot sobre os pais da Jedi é retomado (ignorando a resolução anterior) e agora é revelado que ela é neta de Palpatine (Ian McDiarmid), Kylo Ren refaz o seu capacete e retorna ao posto de capacho principal de um Sith Lord (Darth Sidious), os Cavaleiros de Ren finalmente são revelados para depois serem brutalmente chacinados, a sensitividade a força de Finn retorna a trama e Rose Tico (Kelly Marie Tran) - personagem introduzida no longa anterior - é jogada para escanteio sem dó e sem piedade.

Olha, não a faço ideia se J.J. Abrams e Rian Johnson tinham um péssimo relacionamento nos bastidores ou se a LucasFilm/Disney deu total carta branca para a direção e roteiro de cada filme. Mas uma coisa é bastante certa, ambos não estavam alinhados quanto os rumos da história. Tanto que um acabou cagando em cima sabotando as ideias do outro. E o que me deixa mais intrigado é que a Kathleen Kennedy (a chefona da LucasFilm) PERMITIU que isso ocorresse.

Será que o estúdio não tinha grana para bancar um “Kevin Feige” da vida? Ou simplesmente acreditavam que não seria necessário alguém para cuidar da continuidade da trama? De qualquer maneira, é muito bizarro notar que a Disney com a Marvel Studios conseguiu contar uma história bastante coesa ao longo de 19 FILMES e não conseguiu fazer o mesmo com a LucasFilm em APENAS 3.

Os Cavaleiros de Ren, a versão Star Wars e inútil dos Cavaleiros que dizem Ni!
Além de preservar a integridade dos arcos narrativos, a presença de um coordenador certamente melhoraria a maneira como certos assuntos foram desenvolvidos. Por exemplo, embora goste muito de O Despertar da Força, não consigo engolir a apresentação da Primeira Ordem. Mesmo sendo a grande antagonista dos heróis, a sua introdução se resume a DUAS LINHAS de texto pré-créditos. E mais, em nenhum momento o filme ao menos tenta explicar como a situação retornou a um status quo parecido com o de Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança (Star Wars: Episode IV - A New Hope, 1977).

Ahh, mas o Episódio IV fez a mesma coisa com o Império.” - alguns de vocês podem argumentar. Sim, verdade. Só que é bom lembrar que quando a obra original foi feita, não havia expectativa alguma que geraria continuações. Logo, era mais do que natural que o roteiro focasse em outros aspectos. No caso do Episódio VII, mesmo sendo o primeiro passo de uma nova série de filmes, ele também é uma continuação direta de Star Wars: Episódio VI - O Retorno de Jedi (Star Wars: Episode VI - The Return of Jedi, 1983), onde temos a vitória da Aliança Rebelde sob o Império.

Lógico que não esperava por uma mega explicação contextualizada – algo desse tipo a Disney deverá fazer em algum seriado ou uma nova série de filmes – mas ao menos um monólogo ao estilo Obi-Wan Kenobi sobre o passado de Darth Vader já serviria para alimentar a imaginação dos fãs. Certamente, seria algo muito mais rico do que um texto dizendo “a Primeira Ordem surgir das cinzas do Império devido o desaparecimento de Luke Skywalker”.

Assim como muitos assuntos desta trilogia, o Império Galáctico Wannabe só receberá um pouco mais de contexto no último filme, através de uma explicação beeeeem meia-boca e extremamente preguiçosa.

Mas calma, ainda chegaremos lá.

Outro ponto onde certamente a presença de um "Kevin Feige da vida" faria a diferença seria na exploração dos personagens. Sério, embora a fase Disney tenha montado um elenco extremamente talentoso - destaque para o Adam Driver que vem se destacando nas premiações nos últimos anos - ela peca na forma de usá-los. Particularmente, o caso que me vem sempre à cabeça é o de Poe Dameron (Oscar Isaac). Ao lado de Rey e Finn, ele integra o trio de protagonistas da trilogia. Mesmo contando com bons momentos nos filmes, o seu tempo de tela e a sua importância para a trama é a mesma de um coadjuvante de segundo escalão.

Para se ter uma ideia, enquanto no Episódio VII ele aparece nos vinte minutos iniciais e depois só vai retornar nos finalmentes, no Episódio VIII ele passa grande da projeção confinado em um dos arcos MAIS INÚTEIS de Star Wars (sim, não estou exagerando). Poe só teve a chance de dividir a tela com seus companheiros em uma aventura e ter seu background elaborado – de forma bem preguiçosa, já que o transformaram no Han Solo da nova geração – no ÚLTIMO episódio.

Ok ok, uma catadora de sucata com poderes Jedi (e um passado misterioso) e um Stormtrooper que se rebelou contra um sistema opressor são personagens bem mais interessantes que um mero piloto de X-Wing. Entretanto, se na pré-produção do primeiro longa-metragem foi decidido que o Poe Dameron seria um dos membros da "trindade", cabe aos diretores e roteiristas dar o seu espaço no enredo e torná-lo tão interessante quanto os demais.

E considerando o trabalho de Oscar Isaac no papel e a química que demonstrou com o Finn de John Boyega, não era algo difícil de se fazer.

Após sobreviver a explosão de uma Estrela da Morte, Palpatine montou sua própria montadora de Star Destroyers.
Um exemplo de perseverança. :P
Como muitos já devem imaginar pelo artigo, eu não sou um grande "apreciador" de Os Últimos Jedi. Embora não seja o pior Star Wars produzido pela Disney, esse foi certamente o que mais me frustrou ao término da sessão.

Reconheço que em seus 152 minutos duração, há um curta-metragem espetacular. A batalha espacial do início, a grande maioria das cenas de treinamento de Rey com Luke, a participação especial de Yoda (Frank Oz) - um momento de autoajuda tão sensacional quanto a conversa entre pai e filho em Rocky Balboa (2016) - e o confronto final são realmente de tirar o chapéu. Entretanto, tudo isso é apenas uma pequena fração dentro de um todo que, ao menos para mim, não conseguiu salvar a minha experiência com a obra.

O meu problema com o filme é justamente com alguns arcos do segundo ato. Logo de início, o roteiro escrito por Rian Johnson já propõe ao espectador uma suspensão de descrença enorme ao mostrar que durante a perseguição aos Rebeldes - que estavam agrupados em poucas naves, praticamente sem armas e com as reservas de combustíveis chegando ao fim - as forças da Primeira Ordem preferem manter uma distância segura do que restou da rebelião em vez de partir para o ataque final.

Certo...acredito que a ideia nesse caso era mostrar o quanto os vilões estavam subestimando os heróis, a ponto de preferir assistir a falência das forças inimigas a acabar logo com tudo. Só que é preciso ter muita boa vontade para aceitar que os mesmos que chacinaram vilarejos sem piedade e destruíram planetas sem pestanejar iriam ficar só assistindo o fim de seus inimigos.

Mas beleza, isso me deixa contrariado, mas consigo deixar passar.

Agora, a "brilhante estratégia" de evacuação da Vice Almirante Holdo (Laura Dern)...desculpa, mas aí nem com muita força de vontade, meus caros leitores. Sério, você elabora um plano (onde se aproveita da burrice do seu inimigo) que irá salvar a todos os tripulantes da sua nave, mas esse plano exige TOTAL colaboração dos presentes. Logo, se você precisa da colaboração de todos, por que RAIOS você vai esconder o seu plano do seu PRINCIPAL PILOTO? “Não irei compartilhar meu plano e irei fingir que estou nem aí para situação porque ele é um cara impulsivo".

ISSO NÃO FAZ SENTIDO ALGUM!!

Não bastando a inexplicável atitude da Holdo, ela acaba sendo o ponto de partida para dois sub-arcos extremamente INSOSSOS e INÚTEIS: o motim de Poe Dameron e a busca de Finn e Rose Tico por ajuda. Como mencionado anteriormente, o primeiro só serve para manter o piloto dentro da Nave. Além da mais completa inexistência de aprofundamento do personagem, todo o esforço para o motim acaba acrescentando em nada, parecendo mais um grande FILLER dentro da trama.

Quanto ao segundo, pareceu-me que Johnson quis referenciar o arco de Leia e Han Solo em o Star Wars: Episódio V - Império Contra Ataca (Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back, 1980), onde eles buscam refúgio na Cidade das Nuvens de Lando Calrissian (Billy Dee Williams) e são traídos pelo próprio. Aqui, Finn e Rose buscam ajuda de um mestre decodificador em Canto Bight – uma cidade tão exótica quanto a de Lando – com a finalidade de desligar o dispositivo de rastreamento das Naves da Primeira Ordem, permitindo assim a fuga dos rebeldes.

Sendo bem justo, é uma boa premissa baseada de um grande arco.

Só que não rolou.

E aqui temos um registro da reunião dos personagens que mereciam um arco melhor em Os Últimos Jedi.
A sidequest da dupla é arrastada, chata e dura muito mais tempo que precisava, especialmente nas sequências na Cidade Casino. Embora o plot consiga apresentar a Rose Tico de Kelly Marie Tran, ele não ajuda em nada o arco pessoal de Finn, que fica em stand-by durante o filme inteiro. E para piorar, faltou entrosamento à dupla. Finn e Rose parecem a todo momento estarem em sintonias bem diferentes. Inclusive, por conta disso é que fica difícil de engolir que ela se apaixonou pelo ex-stormtrooper.

Sei que é uma covardia (das grandes) a comparação, mas basta ver o caso do casal do arco original. No final, você compra o romance entre Han e Leia com muito mais naturalidade do que aqui. E sim, o fato de Harrison Ford e Carrie Fisher estarem BEM entrosados (até demais) também ajuda. :P

Como já cometi uma injustiça de trazer o maior casal de Star Wars para a comparação, os coadjuvantes que movimentam a trama também não colaboram. Enquanto no original temos um Billy Dee Williams inspirado como Lando e próprio Darth Vader como o grande antagonista, aqui temos um Benício Del Toro no piloto automático e uma Capitã Phasma pronta para ser descartada sem fazer nada de memorável.

É, a Phasma se transformou no Boba Fett dessa geração. :P

Bem meus caros leitores, já que estamos falando de injustiças, esse é o melhor momento para comentar sobre uma. Assim como eu, houve muitos fãs também que não gostaram dessas tramas do segundo ato. No entanto, houve uma parcela que atribuiu a culpa pela qualidade dos arcos para as personagens de Laura Dern e da Kelly Marie Tran. Inclusive, a intérprete de Rose precisou se desfazer de suas redes sociais por conta de "fãs" que resolveram tirar satisfações ou simplesmente ofendê-la.

Conforme vocês puderam acompanhar acima no texto cheio de raiva e rancor, a qualidade dessas tramas é culpa de um roteiro falho e de uma direção ineficiente, não das atrizes. Tanto Dern quanto Tran mostraram muita vontade em suas atuações, entregando o melhor que poderiam fazer dadas as circunstâncias. Sinceramente, as duas merecem muito mais reconhecimento pelo trabalho que realizaram que o Rian Johnson.

De qualquer forma, mesmo se ambas tivessem atuado mal, isso não é justificativa para linchamento virtual ou perseguição. Aliás, nada justifica esse tipo de comportamento. Podemos criticar sim os péssimos trabalhos, mas sabendo que do outro lado existe um ser humano que merece respeito.

E falando em Johnson, não satisfeito com os arcos modorrentos que fez, ele ainda deu um jeito de atrapalhar o andamento do plot que de longe era o seu melhor trabalho na obra, o treinamento de Rey com Luke Skywalker. Na boa, curto muito esse Mestre Skywalker amargurado pelo seu fracasso. Claro, acredito que a cena inicial do sabre poderia ter sido feita de uma outra forma (talvez ele devolvendo a arma para ela) e ele bebendo leite verde diretamente da fonte é....bizarro.... mas o seu comportamento faz todo sentido com o que foi apresentado no longa anterior. Mesmo se tornando um Mestre Jedi poderoso, todo esse poder não o torna imune ao sentimento de culpa e tristeza.

Contudo, a partir do momento em que o longa-metragem mostra o Jedi levantando o seu lightsaber (mesmo que por uma fração de segundos) contra Ben Solo (seu sobrinho) no momento que sente nele a presença do lado sombrio...sinto muito, aí não dá para aceitar isso. Vejam bem, meus caros leitores, estamos falando de Luke Skywalker, a pessoa que foi capaz de trazer Darth Vader - o grande demônio do Império - de volta ao caminho da luz. E não só isso, ele resistiu à influência do próprio Darth Sidious, que fez de tudo para que ele matasse o seu pai.

O Luke que conhecemos jamais levantaria sua arma contra alguém sem ao menos tentar ajudá-lo. E mais, não faria isso contra alguém totalmente indefeso. Acredito que a melhor saída teria sido mostrar o Jedi tentando de tudo para salvar o seu sobrinho das tentações do lado sombrio. E mesmo com todos os seus esforços, ele falharia e isso conduziria à destruição de tudo que ele construiu. Além de ser extremamente condizente com a construção do personagem durante todos esses anos, colocaria um peso ainda maior em sua amargura.

Luke não atacaria Ben Solo. Luke não atacaria Ben Solo. Luke não atacaria Ben Solo.
E claro, não posso terminar minhas considerações sobre o Episódio VIII sem comentar a decepção chamada Supremo Líder Snoke. Olha, até compreendo o motivo de sua morte para a história. O objetivo era deixar o caminho livre para que Kylo Ren se transformasse no principal vilão da trilogia. É ideia interessante e que poderia acrescentar muito ao Solo renegado, só que a maneira como isso foi colocada em prática foi extremamente broxante.

Para começo de papo, o espectador termina o filme da mesma forma que começou: sem conhecer NADA a respeito do antagonista. Isso é algo muito decepcionante após presenciar a sua introdução no longa anterior, com todo ar de mistério sobre a sua persona. Em segundo lugar, como é que o Snoke me consegue ser derrotado daquele jeito? E sério mesmo que usaram novamente a "Manobra Kenobi" para eliminar um FUCKING SITH LORD?!

Definitivamente, não se fazem mais Sith's como antigamente. :P

Além de não cumprir com as expectativas criadas, o vilão acabou gerando um grande problema para o roteiro do último filme...ao menos para J.J. Abrams. Na cabeça do criador de Lost (2004-2010), ele teria papel fundamental como o grande nêmesis STARRSSS da história enquanto Ben Solo teria a sua redenção. Sem Snoke e com o filho da "Dona Leia e do Seu Han" como único grande vilão - o pateta do General Hux (Domhnall Gleeson) não conta - o cineasta precisava alguém que pudesse assumir o lugar vago do Supremo Líder.

E foi assim que tivemos o retorno de Sheev Palpatine no Episódio IX.

Para este que vos escreve, A Ascensão Skywalker não foi uma experiência tão decepcionante quanto Os Últimos Jedi. É claro que o fato da minha expectativa estar baixíssima – especialmente depois de assistir ao medíocre Han Solo: Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story, 2018) – colaborou para que o sentimento não fosse tão ruim. Sendo bem honesto, como entretenimento o longa é até eficiente neste aspecto. Entretanto, o mesmo não pode dizer sobre o seu roteiro.

Com a grande cisão no fandom gerada pelo episódio anterior, J.J. e Chris Terrio - que só se meteu em roubada depois de ganhar o Oscar por Argo (2012) - resolveram escrever uma história que fosse capaz de resolver as pontas soltas restantes e agradar aos dois lados da polarização. O roteiro resultante acabou sendo um emaranhado de soluções preguiçosas, atitudes covardes e momentos que beiram a de fanfics.

Embora tenha sido um dos grandes atrativos para os fãs velhacos (eu inclusive), a presença de Darth Sidious foi o “pilar” para grande parte das resoluções fáceis da obra. A começar pela própria introdução do vilão que, assim como a Primeira Ordem, foi realizada através do texto pré-créditos. Ok, eles dispunham apenas de único filme para introduzir o grande antagonista responsável por todo mal da galáxia, mas custava gastar um tempinho de tela para fazer algo minimamente decente?

Curiosamente, ao mesmo tempo que a presença do ex-Imperador foi a maneira que Abrams encontrou para resolver os seus problemas, isso acabou gerando dois novos problemas para o cânone da saga. Para começar, apesar de mostrar que o Sith Lord está vivo com o auxílio de aparelhos, em momento algum é explicado como ele conseguiu sobreviver após ser arremessado em um fosso da Estrela da Morte momentos antes de explodir (e nem vou entrar no mérito de que ele conseguiu sobreviver NO ESPAÇO). E claro, a sua sobrevivência acabou tornando o sacrifício de Anakin Skywalker em algo totalmente em vão.

Mas espera, que ainda tem mais. Ao perceberem esses problemas, a LucasFilm tentou reparar essas questões no livro que conta a história do longa. E qual foi a solução?

Aquele Palpatine era NA VERDADE UM CLONE.

...

Éramos felizes com o George Lucas e nem sabíamos.

"E foi assim que a sua avó conheceu meu UNLIMITED POWER..."
Mas retornemos as soluções pra lá de safadas que o antagonista de Ian McDiarmid proporcionou. Lembram de minha reclamação com a introdução da Primeira Ordem em O Despertar da Força? Com o Sith de volta ao jogo, a questão foi resolvida com um “Palpatine era a grande mente por trás da Primeira Ordem e de Snoke. Ele coordenava tudo pelas sombras.”.

Considerando que o próprio foi capaz de armar um esquema nas sombras para dissolver a República e destruir os Jedis nos prequels que nunca critiquei, até dá para aceitar que ele seria capaz de repetir o feito. Mesmo assim, não deixa de ser uma solução preguiçosa.

Outra questão onde a sua presença serviu como solução foi para origem de Rey, que na trama acabou descobrindo ser sua neta. Além de resolver uma questão que já havia sido resolvida em Os Últimos Jedi, transformar a discípula de Leia em uma Palpatine foi uma maneira fácil de se explicar os seus grandes feitos durante os filmes e de contornar uma crítica bem polêmica: de que a protagonista é uma representação de uma Mary Sue. Para quem não está familiarizado, o termo é uma forma de designar personagens femininas que são perfeitas. Elas sempre tomam a melhor decisão, são infalíveis em suas ações e não costumam apresentar defeitos.

Bem, vamos por partes.

Com exceção da vitória contra Kylo Ren em Episódio VII - aquilo achei uma forçada de barra nível "MAIS DE 8000", afinal ela não possuía experiência alguma com sabre de luz - não me incomodo com o fato dela ser apelona. Inclusive, se levarmos em consideração os protagonistas das fases anteriores, eles também eram pessoas com talentos muito acima dos demais. Ou vocês acham que outras pessoas seriam capazes dos feitos de Luke e de Anakin?

É óbvio que personagens dotados de fraquezas, defeitos de personalidade ou dramas pessoais tendem a ser mais interessantes, mas nem todo herói ou vilão necessariamente precisa de uma porção de camadas para nos afeiçoarmos a eles. Por exemplo, o James Bond de Sean Connery era um personagem que normalmente tomava a melhor decisão, era praticamente infalível em suas ações e não apresentava nenhum defeito notável. Sim, características de um perfeito Gary Stu, mas isso não faz dele um personagem menos gostável ou seus filmes piores.

E convenhamos, todos temos as Mary Sue's e os Gary Stu's que nós nos amarramos. E as obras na qual eles estão inseridos não deixam de ser menos interessantes por conta disso. ;)

Mas você não acha que poderiam ter desenvolvido a Rey de uma forma melhor?” – algum de vocês deve questionar. Sim, claro que poderia ser melhor...assim como a grande maioria do elenco desta trilogia. Particularmente, prefiro muito mais ela como sendo uma filha de “ninguém” - sim, estou elogiando uma decisão do Rian Johnson - do que toda essa baboseira de descendente do Sr. Poder Ilimitado. Ficaria muito mais satisfeito se o mesmo conceito usado para o Anakin fosse utilizado para ela (a criança escolhida pela Força). Isso faria muito mais sentido com a historiografia da franquia do que simplesmente atribuir um parentesco qualquer.

Ainda sobre a protagonista, também senti que faltou em sua jornada vê-la lidando com consequências negativas de suas ações. Assim como os membros da família Skywalker tiverem que lidar com fracassos pessoais (uns mais e outros menos), seria interessante ver como isso afetaria a Jedi e como ela superaria (ou não) este revés. A Ascensão Skywalker até ensaiou uma tentativa disso quando ela acaba acreditando que matou Chewbacca acidentalmente na explosão da nave de transporte. Só que o roteiro não teve CULHÕES para manter Chewie morto e a situação foi rapidamente resolvida.

"Huurh awwgggghhh huuguughghg uugggh!!!" - Tradução: Pegadinha do Wookie!!!
A falsa morte do Wookie favorita da galera é apenas um dos momentos de total falta de coragem do roteiro de Abrams e Terrio. Outro momento extremamente covarde aconteceu com relação às memórias de C3PO. Ok, era bem provável que o R2-D2 tivesse mesmo consigo um backup das memórias do Droid Tagarela...mas custava revelar isso no fim do filme?

Poxa vida, o filme entrega uma cena extremamente emocional com ele se despedindo de “seus amigos” – embora estivesse falando Rey e os outros, a mensagem era também uma despedida direcionada a nós, fãs de Star Wars – para tudo ser resolvido em MENOS de 20 minutos?! O que adiantou criar um momento de emoção se você destrói todo esse peso logo em seguida? E detalhe, esse momento acontece próximo a morte fake do Chewie, ou seja, em menos de uma hora a obra faz questão de te enganar não uma, mas DUAS vezes.

Considerando que esperávamos que esse longa-metragem fosse bom, diria que fomos enganados TRÊS vezes.

Certamente, a maior prova da falta de coragem da dupla de roteiristas foi com relação a Rose Tico. Após tudo que a Kelly Marie Tran passou, a maior justiça que J. J. Abrams e Chris Terrio poderiam fazer para a atriz era lhe entregar um bom material para ela trabalhar, um texto em que ela pudesse mostrar todo o seu potencial. Só que ao ofereceram apenas uma meia dúzia de palavras que lhe renderam APENAS 76 segundos de tempo de tela, pareceu mais que a atriz estava sendo punida.

E pior, por algo que não cometeu.

Não faço ideia se eles ficaram com medo da reação negativa das pessoas que criticaram a atriz ou se eles realmente não curtiram a personagem. De qualquer jeito, a forma como trataram a questão foi de uma covardia gigantesca.

Por fim, não posso deixar de comentar o quanto essa produção nos presenteou com momentos típicos de uma fanfic. Tivemos desde coisas mais leves como Chewie recebendo a medalha de Uma Nova Esperança com 42 anos de atraso, Han Solo (que não tem qualquer ligação com a Força) aparecendo como Fantasma da Força para seu filho, Rey se registrando como mais nova membra da família Skywalker...e coisas absurdas como "Reylo" agora fazendo parte do cânone da série.

Rey e Kylo Ren se beijando apaixonadamente...sério J.J. que você achou que isso iria agradar aos fãs? SÉRIO MESMO?! O sujeito a tortura no primeiro filme, machuca vários de seus amigos, é responsável direto pela morte de dois de seus mentores (Han e Luke) e ainda quase mata a sua mentora (Leia)...e você acha que o fato dos dois compartilharem um link pela força os tornam um belo casal?!

Não sei o que é pior, J. J. Abrams acreditar inserir esse ship seria uma grande ideia ou fazer o Capitão Kirk (Chris Pine) e o Spock (Zachary Quinto) invertessem os papéis de Star Trek II: A Ira de Khan (Star Trek II: The Wrath of Khan, 1982) em Além da Escuridão: Star Trek (Star Trek Into Darkness, 2013).

Epa...acabei de citar Star Trek em um texto sobre Star Wars....é....acho que está mesmo na hora de finalizar este artigo, antes que diga que Star Trek: Sem Fronteiras (Star Trek Beyond, 2016) é muito melhor que A Ascensão Skywalker.

E não deixa de ser verdade. :P

Rian Johnson, aqui você mandou bem. Que sequência fantástica.
Pois bem meus caros leitores e amigos, essas são as minhas considerações sobre a trilogia Star Wars da Disney. Acredito que muitos de vocês que tentaram ler este artigo - sei que não vai ser fácil, afinal são 11 folhas de Word - discordaram de várias coisas que apresentei e até defenderam Os Últimos Jedi ou até mesmo A Ascensão Skywalker o que duvido. Sinceramente, como fã dessa saga, gostaria de ter aproveitado esses dois filmes da mesma maneira que aproveitei o primeiro, de verdade.

Felizmente, depois de assistir a série do Baby Yoda e seu amigo Pedro Pascal, fiquei mais esperançoso de que a LucasFilm/Disney poderá voltar a acertar a mão nas próximas produções. Até porque, no fim das contas, tudo o que nós queremos é nos divertir com bons produtos, não é?

Este foi o primeiro artigo da coluna Penso, Logo Digito (agradecimentos à minha amiga Yasmine pela ajuda com o nome), um espaço onde pretendo divagar sobre assuntos diversos sem ter que seguir um formato específico, como faço nas outras colunas do blog. Espero que nos próximos artigos eu possa refinar melhor minhas ideias.

Então é isso pessoal. Depois de um artigo onde eu desabafei minhas frustrações com essa série de filmes, no próximo tentarei escrever sobre algo bem mais alto astral...quem sabe eu não escreva algum artigo sobre Persona onde poderei dizer o porquê de Haru Okumura e Naoto Shirogane serem waifus de respeito. ;)

Vejamos o que a minha criatividade e (principalmente) a minha vontade irá permitir até lá.

OBS: Um agradecimento ao meu amigo/irmão Gustavo pela grande ajuda com este artigo. Muitos assuntos discutidos por aqui vieram de inúmeras conversas que tivemos a respeito dos filmes.

OBS2: No início do texto, no momento que citei os astros veteranos, não citei Kenny Baker - o intérprete de R2-D2 na trilogia clássica e prequel - porque ele não atuou em O Despertar da Força, mas ele participou da produção como consultor.

OBS3:
Em tempos de pandemia de Covid-19, não deixem de tomar todas as medidas de higiene possíveis e de evitar aglomerações. E para quem tiver a possibilidade, fique em casa. Para que esse período turbulento passe o mais rápido possível, devemos também fazer a nossa parte. ;)

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Gostaram do artigo? Desejam ajudar com alguma referência não citada, corrigir alguma informação ou simplesmente me xingar?

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