[Crítica] Liga da Justiça: Deuses e Monstros


Este artigo contem alguns spoilers.

Imagine um filme onde temos um Superman sem qualquer sentimento de compaixão com o próximo e um Batman que não hesita em tirar a vida de seus inimigos. Pela descrição, até parece uma adaptação dirigida pelo Sr. Visionário Zack Snyder, mas não é. O Homem de Aço e o Cavaleiro das Trevas descritos são personagens do longa animado Liga da Justiça: Deuses e Monstros, que tem como produtor e roteirista ninguém menos do que o lendário Bruce Timm.

Lançada no meio do ano passado, infelizmente só tive a oportunidade de conferir o filme no mês passado...apenas alguns dias após assistir o famigerado Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016).

Muito conveniente, não acham?

Aclamado como um dos grandes responsáveis pelo Universo Animado da DC (DC Animated Universe, ou simplesmente DCAU para os íntimos :P), Bruce Timm entende como poucos o oficio de adaptar personagens de uma mídia a outra. Seja como animador, produtor, designer de personagens ou roteirista, ele e sua equipe conseguiram não só transpor a essência dos personagens da DC Comics para as suas animações como também enriqueceu ainda mais um universo tão estabelecido com novas abordagens e ideias.

Com o fim de Liga da Justiça Sem Limites, Bruce passou a se dedicar exclusivamente aos bastidores como supervisor de animação, cargo que exerceu até meados de 2013. Para a felicidade dos DCnecos órfãos fãs, o animador anunciou em 2014 o seu retorno a produção de animações com o projeto Liga da Justiça: Deuses e Monstros (Justice League: Gods and Monsters, 2015). Dividindo o roteiro com Alan Burnett - um dos grandes colaboradores do DCAU - o projeto consistia em um longa animado - lançado no ano passado - e uma série animada caso a animação obtivesse retorno.

E é óbvio que o longa metragem foi um sucesso!

"Ihhh, acho que vamos precisar de um novo Jimmy."
No filme somos apresentados a uma realidade alternativa dentro do multiverso DC onde Superman foi criado por um casal de imigrantes mexicanos, Batman é um jovem cientista que sofre de vampirismo e a Mulher-Maravilha é uma ex-integrante dos Novos Deuses que se exilou na Terra. Juntos, os três formam uma Liga da Justiça que não é bem quista pela sociedade. Tudo porque o trio impõe a ordem e a justiça no planeta através de métodos nada ortodoxos como intimidação, medo e violência extrema.

Quando um grupo de cientistas passam a ser assassinados, uma força-tarefa da presidente presidenta uma ova Amanda Waller é destacada para investigar os crimes. Mas ao examinar a causa de todas as mortes, todas as evidencias sugerem que os culpados são os três membros da Liga. Com a população cada vez mais amedrontada com os deuses justiceiros, a Hernan Guerra (Superman), Kirk Langstrom (Batman) e Bekka (Mulher-Maravilha) precisam descobrir o verdadeiro culpado antes que eles sejam obrigados a ferir pessoas inocentes.

Como já é de costume nas animações de Timm, Deuses e Monstros reaproveita vários conceitos presentes na historiografia da DC. Heróis temidos pela sociedade já foi abordado nos quadrinhos através da Terra 3 (onde os heróis são vilões e vice-versa) e recentemente pelo jogo Injustice - God Among Us (onde o Homem de Aço se transforma em um temível ditador DO MAL). Um Superman sem a criação dos Kents já foi abordado na minissérie Entre a Foice e o Martelo, onde a nave do pequeno Kal-El acaba aterrissando na casa do Zanguief União Soviética em plena guerra fria.

Os próprios protagonistas vêm diretamente dos arquivos da editora. Hernan Guerra é uma versão alternativa de Christopher Kent, filho do General Kneel Before Zod. Kirk Langstrom é a identidade civil do Morcego-Humano, vilão da galeria do Batman. Bekka sempre foi integrante dos Novos Deuses, sendo conhecida inclusive como esposa de Órion, o filho de Darkseid sr. raios que fazem curvas retas.

Zack Snyder pira com o Batman quebrador de pescoços.
A mudança nos personagens da trindade à primeira vista pode parecer estranha, mas ela é um elemento essencial para a trama. Isso pode ser compreendido logo na primeira cena da Liga, onde o trio promove uma verdadeira chacina em uma base inimiga. O espectador pode não aprovar os atos dos “heróis”, mas como ali não se trata de Clark Kent, Bruce Wayne e Diana Prince, fica muito mais “fácil de engolir” as ações praticadas pelo trio.

Mostrados como seres repulsivos, prepotentes e sem qualquer sinal de compaixão, mesmo ajudando a impor a ordem, os membros da Liga mais parecem vilões do que propriamente heróis. E a forma como eles se relacionam com as autoridades em vários momentos me fez pensar que eles poderiam ser capazes de fazer um golpe de estado.

E de fato, conforme a trama vai se desenrolando, a sociedade humana passa cada vez acreditar nessa possibilidade. Entretanto, ao passo que a população passa a enxergar a Liga como monstros, o espectador passa a enxerga-los justamente como pessoas.

Essa é a grande joia do roteiro escrito por Bruce Timm e Alan Burnett. Hernan Kirk e Bekka não sentem prazer em matar ou muito manos ou fazem por acreditar por questões ideológicas. Eles fazem isso movidos por um instinto de sobrevivência, adquiridas graças as suas sofridas experiências de vida. Hernan teve que conviver desde cedo com as péssimas condições dos imigrantes nos Estados Unidos e com a xenofobia, muito antes dele se revelar como um ser de outro mundo. Kirk – que já era uma pessoa totalmente introspectiva – teve que abandonar seus dois únicos amigos para protege-los de sua sede de sangue, vivendo totalmente a margem da sociedade. Bekka teve que fugir de seu planeta após presenciar o assassinato de Órion (por quem havia se apaixonado) e os Novos Deuses de Apokolips pelas mãos de seus próprios familiares (Novos Deuses de Nova Gênese) em pleno o dia de seu casamento em uma cena que faria escorrer uma lágrima em George R. R. Martin.

"Professor Xavier, o que faz aqui na DC?"
Em relação a trama principal do longa, ela se desenvolve conforme os personagens vão sendo apresentados. Do primeiro assassinato até a revelação do grande culpado, a trama é bem muito bem conduzida. Inclusive, em um dos grandes momentos chave da história – onde basicamente todos os grandes cientistas são eliminados – por alguns momentos o espectador realmente fica atiçado em descobrir quem está por trás de tudo. A trama só não é melhor pois temos um puta Deus Lex Luthor Ex Machina no final da trama para que os heróis descobrissem o verdadeiro vilão da bagaça.

As cenas de ação possuem o mesmo padrão de qualidade das séries vistas desde Batman: The Animated Series à Liga da Justiça Sem Limites. Contudo, como Deuses e Monstros tratam de heróis que não possuem certos freios morais, temos aqui uma das animações mais violentas já produzidas pelo animador. Claro que não estamos falando de um nível de violência ao estilo Paul Verhoveen, mas aqui temos sangue, destruição e uma variedade de mortes envolvendo várias figuras ilustres do Universo DC. Uma inclusive ainda era apenas uma criança. O_O

Para quem estava com saudade do estilo de animação de Bruce Timm, o longa animado é um agrado visual. Sim, heróis de postura era e com peitoral mais robusto (estilo Johnny Bravo, mas sem as perninhas curtas), heroínas e mocinhas com corpo mignon, visual de uniformes simplificado sem um milhão de detalhes e bolsos Jim Lee não aprova e por fim, uma grande semelhança visual com os seus últimos trabalhos. Ou seja, nada de Amanda Waller modelete dos Novos 52. :P

A dublagem brasileira realizada pela Cinevideo traz vozes já conhecidas do público associadas aos personagens. Logo, temos novamente Guilherme Briggs (Superman), Duda Ribeiro (a 2º voz do Batman, já que a primeira é Marcio Seixas), Priscila Amorim (Mulher-Maravilha), Luiz Carlos Persy (Lex Luthor), Marize Motta (Amanda Waller), José Augusto Sendim (Darkseid) e Beatriz Loureiro (Vovó Bondade). Além das vozes conhecidas, o elenco ainda conta com Miriam Fisher (Lois Lane), Fernando Lopez (Will Magnus), Élcio Romar (General Zod), Ettore Zuim (Steve Trevor), Christiane Monteiro (Tina), Eduardo Borgerth (Órion) entre outros.

Quanto a dublagem original, a Warner optou em fazer algo diferente. Como o trio de protagonistas não era formado pelos alteregos mais conhecidos, ela decidiu escalar dubladores diferentes já que aqueles personagens eram pessoas diferentes. Logo tínhamos Benjamin Bratt como Superman, Michael C. Hall fazendo mais um assassino como Batman e Tamara Taylor como Mulher Maravilha. Algumas críticas brasileiras até reclamam que a Cinevideo poderia ter feito a mesma coisa.

Sinceramente...caguei para esse detalhe isso não me incomodou em momento algum.

Será que a Bekka usa a mesma estratégia da Poderosa?
Mas Marcel, logo no inicio você comentou sobre Batman v Superman. Só li essa porcaria até aqui para saber o que você tem a dizer sobre o filme.
Se realmente tem alguém que estava querendo saber da minha opinião...pois bem...não achei o filme essa bomba de bosta que muitos tem ventilado aos quatro cantos. Há pontos positivos como o embate entre os dois (onde vemos o Batman com preparo), a relação entre Bruce Wayne e o Alfred e claro, a Mulher-Maravilha. Contudo, a trama claramente cortou cenas importantíssimas deixando a edição confusa, o Batman mata pessoas sem hesitar (sim, ele já matou pessoas em n histórias, mas ele SEMPRE evita o máximo chegar a esse extremo), Superman e Batman possuem pouquíssimos diálogos entre eles, a estratégia “Martha” acabou se revelando um tiro pela culatra e por fim…PORRA DC, PORRA WARNER, CHEGA DE LEX LUTHOR BUFÃO.

No fim das contas, acabei muito decepcionado pelo grande potencial desperdiçado. Algumas semanas depois, tenho a possibilidade de assistir Deuses e Monstros, onde temos heróis que matam por conta de uma motivação e não porque o diretor acha legal, uma edição que favorece o entendimento do espectador, heróis que conversam entre si e expõem seus pontos, e claro, um Lex Luthor gênio e cerebral. E tudo isso em apenas 75 minutos, praticamente metade do tempo de duração do longa dirigido pelo Snyder.

Enfim, Liga da Justiça: Deuses e Monstros é um grande retorno de Bruce Timm e seu amigo Alan Burnett a frente de criação das animações da DC. Ainda esse ano, teremos uma série baseada neste universo mostrando os acontecimentos posteriores ao longa. E isso, meus caros leitores, eu não irei perder por nada deste mundo. :D

Nota: 9

OBS: Antes do lançamento do longa animado, a Warner em parceria com o canal Machinima lançou uma "primeira temporada" de Deuses e Monstros. Essa temporada conta com três episódios curtíssimos (Twisted, Bomb e Big), cada um dedicado a um personagem da tríade.

OBS2: Bruce Timm para coordenador do universo cinematográfico da DC. Eu apoio!


Ficha Técnica

Liga da Justiça: Deuses e Monstros (Justice League: Gods and Monsters, 2015)
Animação | Aventura | Ação

Diretor: Sam Liu.

Roteristas: Bruce Timm e Alan Burnett.

Elenco: Benjamin Bratt, Michael C. Hall, Tamara Taylor, Paget Brewster, Jason Isaacs, C. Thomas Howell, Grey DeLisle, Richard Chamberlain, Josh Keaton, Tahmoh Penikett, Penny Johnson.




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